31 de dezembro de 2005

A pi... peça mais recente da minha colecção

Nesta pequena estatueta em bronze proveniente da Alemanha, uma rapariga abraça um demónio. Quando se retira a cabeça do demónio, aparece uma outra cabecinha também levada do diabo.

24 de dezembro de 2005

Mais uma peça para a minha colecção

Esta é uma pequena estatueta em bronze, com um segredo delicioso, que veio da Áustria. Fechada, é um turco com um gato ao colo. Abrindo a capa articulada, vêem-se (e vêm-se em) malandrices.
E continuo sem encontrar quem queira investir num espaço de exposição para a minha colecção...

21 de dezembro de 2005

Publicidade - Laser


(via O Jumento)

15 de dezembro de 2005

Gueixa - por Anukis

Ele gostava de entrar em jogos de poder, sempre a dominar. Gostava de medir forças, mesmo nas relações pessoais. No sexo, também. Nada o excitava mais do que submeter uma mulher ao seu domínio. Queria-a principalmente se ela fizesse tudo o que ele dissesse, se se deixasse subjugar à lei do seu desejo.
Ela era uma mulher misteriosa. Talvez devido à sua capacidade camaleónica de mudança. Era capaz de ser quem quisesse, de se colocar na pele de uma personagem que acabara de criar. Era uma actriz de vidas.
Conheceram-se num bar. Trocaram um longo olhar que falava sobre domínio e submissão. O tempo parou e as conversas à volta deles atenuaram-se, concentrados que estavam naquele diálogo silencioso. Ele dirigiu-se à porta e ela seguiu-o. Entraram no carro e ele conduziu-a até um hotel próximo.
No quarto, estava outra mulher. Nada disseram. Com o olhar, mandou-as despir. Depois, tirou do bolso um rolo de fita preta e amarrou-as como se fossem apenas objectos do seu prazer, corpos sem alma. A que já lá estava ficou sentada a ver enquanto a outra, que tinha vindo com ele, recebia instruções para lhe fazer um fellatio. Ele tinha o pénis erecto de excitação. Ordenou-a que lhe acariciasse os testículos enquanto o ia lambendo e chupando levemente a ponta do sexo. E ela obedecia a tudo o que ele lhe pedisse. Não sentia medo nem estranheza. Entrou no jogo dele por completo...
No final da noite, já vestida, pronta para sair do quarto, ele deu-lhe um cartão com o seu número de telefone. Nunca tinha encontrado ninguém assim que se tivesse submetido completamente a ele sem qualquer resistência e queria repetir a experiência. Saíram todos do hotel. Ele regressou para casa com a sua mulher apagada. E ela? Ela deixou cair o cartão numa poça de água. Regressou a casa a pensar: «Interessante o papel de Gueixa. Amanhã, serei Lara Croft».

Anukis

10 de dezembro de 2005

9 de dezembro de 2005

Adoro publicidade (e leite...)


(tentativa da Gotinha)

8 de dezembro de 2005

As Causas Justas - OrCa

por ele
só passavam causas justas
era uma segunda pele
aquilo das causas justas

para onde se virasse
revirasse ou mordesse
lá estavam as causas justas

e tão justas eram elas
que tudo fazia nexo

colavam-se-lhe então à pele
e de tão justas que eram
a ele
até se lhe via o sexo.

OrCa


Este poema faz parte integrante do livro do Jorge Castro «Contra a Corrente», que recomendo. Instruções para encomenda aqui.

7 de dezembro de 2005

Despida - por Anukis

- Porque estás triste? Não te dei já o sumo de laranja que querias? - diz-lhe ele, um pouco impaciente.
Ela fitou-o, desconhecendo-o. Quem era aquele? Porque estava nua à frente daquele estranho? Tinha-se despido de si mesmo. Tinha ficado sem alma, tudo por amor, tudo por ele. E agora? Agora, nada restava.
Apaixonara-se por ele loucamente. Estava possuída. A voz dele exercia total poder sobre ela. Ele dava o comando e nem era preciso fazer «enter»: ela já lhe obedecera.
Ele gostava dela assim. Com ela, foi apurando os jogos de sedução. Já não se contentava com o sexo tradicional. Ele era um eterno insatisfeito. Alugava filmes XXX e reproduzia depois com ela as cenas que o excitavam. No princípio, tinha sido fácil. Nunca lhe dizia que não. Mas agora, estava a resistir à sua última ideia, à última prova. Já não lhe bastava a escravidão, queria transformá-la num simples objecto, descaracterizado, desalmado...
Cheia de reservas mentais, acedeu finalmente. Dirigiram-se a um bar parecido com tantos outros bares, se não fosse a sala secreta. Entraram. Não era a noite do swing, mas sim uma homenagem a Baco. A luz era ténue e só se viam corpos em movimentos rítmicos desenfreados, ao som dos batuques próprios dum bacanal. Batida alienante. Ela despiu-se de si mesma. Saiu do seu corpo e ficou do lado de fora. Estava anestesiada. Não sentiu nada quando o seu corpo foi agarrado por mãos estranhas, lambido por línguas desconhecidas, penetrado por sexos e coisas. Ficou a ver insensível. Objecto com olhos fora de órbita.
Levou-a a casa. Despiu-a mesma na entrada. Possuiu-a contra a parede. Êxtase total. Superara a última prova. No fim, foi à cozinha. Perguntou-lhe se queria beber algo. Ela ouviu-se responder um sumo de laranja, laranja, anja, anjo... Estava longe, muito longe, desde que entrara naquela sala.
Quem era aquele? Porque estava nua à frente daquele estranho? Tinha-se despido de si mesmo. Tinha ficado sem alma, tudo por amor, tudo por ele. E agora? Agora, nada restava. Queria apenas esquecer. Nunca mais voltar a vê-lo...

Anukis

6 de dezembro de 2005

O José Vilhena é um mestre!


Capa da revista «Gaiola Aberta nº 29 (2ª série) de Novembro de 2005

Só tenho pena de ele nunca ter respondido às minhas mensagens para comprar desenhos originais dele para a minha colecção...

3 de dezembro de 2005

Volta ao 4º Encontra-a-Funda pelos blogs

Para quem precisa de visita guiada:
O OrCa anteviu o Encontro como quem odia.
O Nikonman escreveu em estilo saramaguento, em duas partes: um e dois.
A Mad concordou que foi tão bom...
A Jacky escreveu sobre as Cu-riosidades do Encontro da Funda.
A Gotinha ficou com a língua congelada.
Aqui, o OrCa odeu a caminho da alcoforada. Depois, falámos uma, duas, três, quatro vezes...
O SirHaiva ficou logo com Sãodades mas continua a sua cruzada pelas mulheres (cruzada porque tenta cruzar-se com elas): "À parte das dúvidas existenciais que nos incomodam no dia-a-dia sempre teremos fotografias de gajas nuas. Nada melhor para nos lembrar como é bom usufruir dessa dádiva que é estar vivo. Tudo o resto resolve-se". A vida continua...
Tivemos direito a uma leitura cabalística.
O Jorge Costa pensa no futuro (enquanto consome os sacos de plástico que ganhou em Beja).
Ah! Já me esquecia: lê a minha primeira entrevista, feita pelo Nikonman.

2 de dezembro de 2005

Os arrepios em Beja das leituras de Gisela Cañamero

Que bela leitura da 3ª carta da Soror Mariana de Alcoforado nos ofereceu a Gisela Cañamero em frente à janela do convento, actual Museu de Beja (obrigada, José Carlos Oliveira, curador do museu). E que arrepio sentimos com as «Novas Cartas Portuguesas», das 3 Marias...

fodografia do OrCa
Sugiro que leiam os nossos comentários de agradecimento no blog da Gisela Cañamero «Cigarra na paisagem».
E que pena eu tive de não ter podido levar comigo o portfolio de Milo Manara «Les Lettres Portugaises», que faz parte da minha colecção...

1 de dezembro de 2005

O Que Eu Sei Do Teu Corpo É Quase Nada - OrCa

«Aproximas a mão
Os dedos desatam a arder
Inesperadamente...»
Eugénio de Andrade

o que eu sei do teu corpo é quase nada
sei mais do fogo e da água
sei da terra
sei do ar e sei do mar
sei tanta coisa
e não sei do teu corpo quase nada

sei que me tiras, de seguida, o que me deste
de ti bebido o absinto do desejo
e nem retenho o fugaz gosto de um beijo
e só sei que aqui estás porque te sinto
por te amar tanto assim feito de urgência
rodeado que ainda estou desse teu fogo
logo de mim se apodera a tua ausência

é tão pouco o que me dás
e no entanto
eu sinto
e sei
e vejo que é tanto
porque és água e porque és mar em que me deito
e porque és a terra e o ar com que respiro

se és um fogo que me afoga por defeito
na urgência de um amor tão com sentido
eu sei bem que não és minha
minha amada
pois só sei desse teu corpo quase nada.

OrCa

Este poema faz parte integrante do livro do Jorge Castro «Contra a Corrente», que recomendo. Instruções para encomenda aqui.

30 de novembro de 2005

4º Encontra-a-Funda - mais dois (de tantos) bons momentos

Apreciem com os olhinhos o bolo oferecido pela Mad e pelo Nikonman à Confraria Beja Mossexo, que só quem lá esteve o degustou com os lábios, o céu da boca e o fundo da garganta (e houve quem repetisse):

fodografia OrCa

Na viagem de regresso, o Jorge Costa serviu de modelo à esposa (não a irmã) Lúcia para ela explicar o que é a «Brazilian Wax»:

fodografia Jacky

27 de novembro de 2005

4º Encontra-a-Funda


foto: mad
(a pessoa retratada pediu, e também por vontade dos pais, que o seu retrato fosse apagado. Assim, substitui-se a fotografia por um grafite. Mantém-se o anonimato de quem protestou por esta exposição pública. Sem comentários)

Para que serviram as correntes? Quem foi acorrentado? E o telemóvel vibrava?


foto: nikonman

E que momento terá sido este? Que se terá passado neste Encontro?
A revelaSão para breve. Com imagens e palavras..... fundas!

26 de novembro de 2005

Ode heróica e alcoforada, a caminho de Beja-me mucho...

no 4º Encontro d’A Funda
cá por Beja celebrado
se membro e membrana abunda
faz cá falta a Alcoforado

veio-se a Beja o francês
p’ra se curar de mazela
não viu a pobre a má rês
que lhe assomou à janela

nem por montanhas ou bosques
alguém consegue encontrá-lo
deu o Chamilly de frosques
deixou bosta do cavalo

e Mariana ficaste
triste e só e Alcoforado
deixa lá mulher levaste
que contar p’rò outro lado

nós por cá te celebramos
com libações a preceito
n’A Funda o 4º brindamos
odemos no 4º a eito

malta ao Barrote agarrada
que em Marisbeja se uniu
desemboca em tomatada
no 25 de Abril

nem dos fracos reze a História
pois mais interessa que seja
do 4º Encontro a memória
dos que afundaram em Beja!

23 de novembro de 2005

Carta secreta de Soror Mariana ao cavaleiro de Chamilly - II

Escreveu Soror Mariana na sua cela:

Ah meu amor…
O sino chama já para as Avé-marias
E eu no meu catre desfalecida descomposta
Não refeita de outras meditações
Outras preces, outras contas, outro terço
O teu…
Ah meu cavaleiro, minha cruz, meu tormento
Tua recordação dá-me alento
Para suportar estes calores nos quadris
E a saudade de tua espada desembainhada
Desperta a vontade de cavalgar a toda a sela
Desde as Vésperas até ás Avé-marias
Todos os santos dias.


Resposta do cavaleiro de Chamilly:

Ah minha freira tresloucada ensandecida
Pudera eu acalmar teus calores teus ardores
Estivera eu aí no teu catre, na tua cela
Espada desembainhada
Cavalgando teus quadris a toda a sela
Que mesmo que os sinos tocassem a rebate
Aí e em toda a parte
Rezar as Avé-marias
Tu meu amor… Não irias.

Foto: Rafal Bednarz

17 de novembro de 2005

Um sonho de mulher - por Charlie

Encontrava-me naquela fase limiar do sono, entre o sonho e o despertar, onde as sensações têm o peso para além da realidade. A respiração dele massajava suavemente o meu pescoço.
Experimentei o morder dele no meu ombro.
Primeiro gostoso e depois com mais força, arrepanhando-me a pele numa prega fina entre os incisivos.
Acre como uma agulha, pensei. E senti-me ligeiramente incomodada. Sem acordar em pleno reagi movendo-me. Mas ele aproximou-se mais de mim. O calor do seu corpo embalou-me e deixei-me afundar durante um instante mais nos braços de Morpheu.
As suas mãos começaram a explorar o meu corpo que era um joguete para ele e a minha consciência pendulava entre o limbo e o sonho. Estava deitada de lado e senti como ele pôs uma perna sobre mim, como as suas mãos tinham posto os bicos dos meus peitos entumescidos, como desciam e como agora explorava o meu umbigo deixando-me arrepiada. Contra o meu corpo sentia agora a pressão da expressão máxima da sua virilidade. Ele desceu mais e continuou. Eu por mim era apenas um frágil barco de papel navegando no infinito lago de desejo que era o dele. Quis dizer não mas não me saiu qualquer som.
Senti-me afundar indefesa e, quando me pensava ir afogar, descobri de repente que a superfície do lago era apenas o limiar do primeiro céu dos sete para onde ele me queria transportar. Voltei o meu corpo de mulher rendida e senti como ele deslizou para cima de mim e para dentro de mim.
Tocou nos meus lábios com os seus.
Não gostei da sensação. Estavam secos! Terrivelmente secos!
Acordei num sobressalto, num breve instante de consciência, mostrando a crueldade da realidade nua.
Ao meu lado não estava ninguém. Ele havia saído de casa havia já meses...
Deixei-me afundar novamente no sono. Senti ainda uma comichão no ombro.
- Um mosquito - pensei, enquanto coçava já quase entregue ao mundo dos Deuses.
Ainda antes de mergulhar dentro de mim, desci com a mão procurando-me e voltando a encontrar o príncipe dos sonhos como aquele com que, momentos antes, tinha interrompido o encontro...

Charlie

O Mano 69 adora dar conatinuidade:
"... com o meu querido bichinho de estimação, que eu fazia questão de sempre me acompanhar na solidão do leito. O massajador eléctrico ainda ronronava. Acariciei-o, senti-o duro e firme, disponível, sempre disponível para tudo. Num instante, um «flash-back» desenrolou-se à minha frente, recordando o dia em que o vislumbrei numa venda por catálogo que inopinadamente tinha aparecido na caixa do correio, o frémito do preenchimento em letra de imprensa e com caneta preta do pedido de encomenda, a colocação no marco do correio do pedido e o aguardar, por largos dias, da chegada do eleito. Até que, numa manhã de neblina cerrada e onde os alvores do Inverno já se faziam sentir, o funcionário da empresa Correio Expresso trouxe o embrulho anódino no seu invólucro normalizado. O «zezinho», petit-nom do meu massajador pessoal, tinha finalmente chegado à minha existência terrena!
No entanto, e de um momento para o outro, o estado de semi-sonolência em que me encontrava foi abruptamente interrompido pelo «zezinho», que passou de um agradável torpor para um imobilismo avassalador. Abanei-o, tentei encontrar nele uma réstia de vida, um recomeço. No entanto o meu amigo íntimo jazia como que... o singular do particípio passado de matar perpassou pela minha mente, enrolou-se na minha boca mas não consegui exprimir o adjectivo.
Levantei-me rapidamente e procurei o carregador automático que alimentava as pilhas recarregáveis dos meus sonhos carnais induzidos. A solução encontra-se perto e bom caminho. Procurei com um olhar inquisitivo o luzir de um led vermelho na penumbra do quarto, que se materializava num carregador eléctrico que continha mais duas recargas (do tipo
AAA Ni-MH 1.2 V) prontas a entrar no tubo oblongo, frio num primeiro instante, mas que mercê de uma prática reiterada rapidamente fazia tocar a rebate os sinos e soltar as torrentes de magma ardente. Uma sensação como que... uma lagosta, sem tirar nem pôr!
To be conatinued"

13 de novembro de 2005

World Erotic Art Museum - o mundo de Miss Naomi

Quando há alguns anos comecei a comprar algumas peças para a minha colecção no eBay, com frequência perdia as peças mais interessantes com licitações muito acima das minhas possibilidades feitas por uma compradora registada como missnaomi.
Logo ali imaginei - e invejei - o que seria a colecção desta senhora.
Entretanto, comprei alguns livros sobre arte erótica cuja autora já não me era estranha: Miss Naomi.
Recentemente, abriu em Miami (Florida) o World Museum of Erotic Art. Adivinhas quem é a proprietária? Naomi Wilzig, que descobri ser uma senhora de 70 anos que juntou, ao longo dos últimos 15 anos, cerca de 4000 objectos de todo o mundo - da Grécia antiga à moderna arte fetiche - e que agora são acervo do museu.
Uma curiosidade: quando ela foi a Paris pela primeira vez comprar arte erótica, como não sabia francês, foi um fracasso (este tipo de arte raramente está exposto). O método usado nas viagens seguintes a Paris já foi um sucesso, porque pôs uma cartão pendurado ao pescoço: «Je cherche de l'art érotique». De tal forma que adaptou o mesmo cartaz para as suas incursões pelos Estados Unidos e outros países anglófonos.

Naomi Wilzig com algumas das peças da sua colecção e
o cartaz que põe ao pescoço quando vai às compras

Não há ninguém por aí interessado em investir num espaço de divulgação da minha colecção de arte erótica? É que eu nunca serei viúva de um banqueiro, como a senhora Naomi Wilzig, que declarou recentemente: "a colecção manteve-me jovem e vibrante".

10 de novembro de 2005

4º Encontra-a-Funda - o cartaz

Beja-me mucho!
Crica para veres todos os detalhes actualizados do 4º Encontra-a-Funda
O Nikonman pediu-me um cartaz oficial e cavalheiro do 4º Encontra-a-Funda. Este é o que se fode arranjar. Não sei se o conceito «Beja-me mucho» é original mas veio-se-me bem.
Vê aqui o programa, quem está inscrito (somos 46) e as transferências que já foram recebidas.
Entretanto, aproveito para agradecer o apoio de:

Sociedade Agrícola do Monte Novo e Figueirinha



Café-Bar «O Barrote»

(não confundir com «o Rabote»)


Gisela Cañamero

Criadora de espectáculos, encenadora e dramaturga


Scapetur

Animação turística e eventos

Praça da República em Beja
o blog do Nikonman

Aliciante
o blog da Mad

Publicidade bem subtil ao «comprimido azul»

Quando disse que esta publicidade é subtil, o que eu imaginei era o pensamento de um homem que visse aquilo: "Tão feia! Só a consigo comer se tomar um Viagra!"
Sou mesmo tolita! O Tiko Woods (a falta que ele cá fazia...) fez-me ver a luz: "Claro que o sono é derivado do «azulinho». A boa velhota ficou completamente derreada após a actuação do velhote fortalecido! Já não lhe acontecia há mais de 50 anos!"
BINGO! Aliás, a Gotinha ainda viu mais outro detalhe importantíssimo que corrobora (seja lá o que for que isso queira dizer) essa leitura: "já repararam nos joelhos esfolados?"
O 1313 é mais drástico: "Cá para mim a velha morreu. Repararam que ela também não respira"? É um facto! Mas a Matahary conforta-nos: "A verdadeira pubicidade está aí! Morreu feliz!"
O Mano 69 ainda nos dá alguma réstea de Esperança (sim, sim, pode bem ser o nome da senhora): "A velha está é em cona profunda!"

O café - por Charlie

Entrou no café sem quase olhar para ela. Na mente passam-se coisas estranhas, as ideias correm em riachos juntando-se em cursos de ideias que se precipitam, ora em cascatas para grandes lagos, ora se diluem em gotas, absorvidos pelas margens escuras correndo subterrâneas para reaparecer noutros contextos em nascentes que nos deixam a sensação de experiências novas, mas de sabores anteriormente vividos.
Aproximou-se do balcão e mirou-a.
Desta vez os olhos pousaram no discreto decote que se prolongava em sonhos e formas correntes debaixo da roupa. Atravessando galerias escondidas na mente, espreitando aqui e ali à superfície e surgindo em fontanários de brilhos de lascívia e gostos que se descobrem na saliva e que saboreamos na nossa boca num beijo sonhado.
Deteve o olhar perdido e desfocado vendo através dela a nudez que lhe brotava num borbulhar de fontanários escorrendo-lhe por dentro.
Os olhos já não viam. Era todo o seu corpo que absorvia o reflexo da luz que o corpo dela emanava.
Acordou de repente.
- Um café, por favor.
Ela olhou para ele. Aproximou-se da máquina e os seus olhos ao abaixar-se detiveram-se-lhe por um instante na confluência das pernas das calças.
Colocou a pega no moinho e retirou a dose do veneno preto com que nos habituamos a drogar os neurónios. Pensava nele em poesia e afecto. Um abraço terno e umas palavras que fazem estremecer uma mulher por dentro. Fazendo correr o sangue a ferver pelas tubagens e válvulas do querer, e explodindo em vapores escaldantes no meio de braços, pernas e sensações tão sublimes como intensas...
Desligou o manípulo e algumas gotas mais caíram ainda em metáfora de êxtase para dentro da chávena.
- Está aqui o café. Quer açúcar ou prefere adoçante?
Ficou calado.
Pensando.
- Comia-te toda, mesmo sem açúcar. Entrava-te nessa boca em língua de fogo. Despia-te essa blusa. Levantava-te a saia, puxava-te as cuecas e enfiava-to todo, enquanto te mordia o pescoço e descia para as mamas... - Acordou do breve sonho e, focando a vista nos olhos dela, reparou como eram lindos. Como os lábios eram sensuais e brilhantes e como o peito subia ao ritmo da respiração.
- Pode ser açúcar.
Olharam-se mais uma vez.
Ela pensando numas palavras doces, num beijo terno, num abraço quente como o toque do café nos lábios e os ouvidos a mergulhar num poema dito em voz baixa, a fazer vibrar a alma.
Ele em como a violaria em qualquer cantinho que se proporcionasse...
Bebeu o café, pagou e foi-se embora.
Enquanto abalava ia murmurando para si.
- É o que todas querem. Pau! Bem aviadas e fodidas....
Ela ficou olhando para ele que se afastava. Abraçou-se e sentiu nas mãos, que tão bem conhecia, o calor de um poema que se diluía lentamente na luz do dia que entrava pela porta...

Charlie

A LolaViola revela-nos o final na perspectiva do lado de trás do balcão:
"Ao vê-lo afastar-se mais uma vez penso:
– Gostava de ser mágica para te deitar no café os sonhos com que povoas as minhas noites. Gostava que me visses por detrás dos aromas dos cafés das manhãs. Gostava que agora olhasses para trás e me sorrisses. Gostava que corresses para mim e me dissesses no fundo dos meus olhos «Quero-te toda, nua, minha...».
Ele não se virou para trás. Ela suspirou. Tinha bicas para tirar, o balcão para limpar. Guardou o sonho no bolso do avental. Tornou-se invisível e anónima como uma miragem".


O Charlie não se podia ficar sem se vir de novo:
"Ele à porta acendeu um cigarro. Olhou para o céu e para o dia claro, que se ia tornando frio, com uma luz difusa como as ideias que o povoavam.
Deu dois passos e tossiu.
- Qualquer dia - pensou - entro ali quando não estiver ninguém e atiro-me a ela. Abraço-a e digo-lhe ao ouvido o quanto penso nela todo o tempo. Como a desejo... Já pensei nisto várias vezes e calo-me, mas a próxima vez é que vai ser...
Sorriu e atravessou a rua. Ainda antes de chegar ao lado oposto olhou para trás.
Lá ao fundo estava ela. Bolso no avental, olhando para o mesmo vazio que cruzava com o seu olhar..."


O Mano 69 acha que faz falta um final feliz:
"Quando acabou de sorver o café notou que algo se passava no seu corpo, uma sensação de absorção mas ao contrário. Olhou lívido para ela, como que a pedir ajuda, sabendo no seu íntimo que só uma larada podia obviar as consequências que já se faziam sentir. Agora sabia como é que o magma ardente subia, subia sempre até à boca do vulcão para depois ser expelido com força, quase ejectado, descendo posteriormente a encosta a rebolar até perder a força cinética.
Acabou-se o tempo, acabaram-se as lucubrações infinitesimais. Quando se moveu sentiu que os pés se moviam mais rápido que o corpo e um odor, um cheiro nauseabundo vindo das suas entranhas, levou-o a cambalear de encontro ao balcão. Olhou para ela, lançando-lhe um SOS pestanejado. No entanto, do outro lado do balcão a resposta foi apresentada na forma de uma esfregona e um balde de água tépida".


A Encandescente propõe um final alternativo:
"Parou à porta, olhou-a através do fumo... Ela parada e ele pensando «querem todas o mesmo, como a Lisete» e ela pensando «ele não me diz nada» e ele vendo a Lisete, aquela cabra, e sabia que se penetrasse esta seria a Lisete que penetraria, a cabra que conhecera também num café e tinha os mesmos olhos doces mas que não eram doces, ele é que os via assim e uma noite depois do café fechar ele deu-lhe, ou queria dar-lhe, porque ela nem o deixou mexer-se com a pressa que tinha de sexo, a cabra, e agarrou-o por um braço e encostou-o ao balcão e a mão foi directa ao manípulo, o dele, não o da máquina de café, e ele duro e ela a despir as cuecas a dizer-lhe penetra-me e ele a baixar as calças à pressa e ela a dizer «penetra-me» e ele a já a tinha penetrado e ela «penetra-me» e ele já no orgasmo e ela impaciente a baixar-se e ele ali nu diante dela e ela a rir, a cabra, a rir dele e do sexo dele... «Um dia entro quando não estiver ninguém e violo esta gaja como fiz com a Lisete», pensou..."

6 de novembro de 2005

Publicidade



Vem este post a propósito da «beleza real» de que ultimamente se tem falado por aqui. (ver posts sobre Campanha por Beleza Real da Dove e a About-Face.)


Este Blog sobre publicidade é do Canadá. Podemos lá encontrar não só excelentes cartazes publicitários mas também algumas reflexões, ideias e opiniões do dono que é "art director / designer".


O cartaz aqui do lado foi retirado do Best Rejected Advertising que exibe alguns exemplos de publicidades rejeitadas e/ou proibidas em determinados países.


E fiquei deliciada com a subtileza do cartaz do WonderBra!!

Quem é amiga, quem é?!

A ilha - parte 2 - por Charlie

Tempos idos....

Sentado num tronco seco, todo branco que já conhecera anos de naufrágio e depois dera toda a cor ao Sol ao dar à costa, o velho riscava rabiscos na areia.
Riscava e tornava a riscar, passando com o pé por cima de tudo e voltando a riscar nos mesmo sítios com outros desenhos herméticos e abstractos.
Ria-se para eles e fechava os olhos falando baixinho. Recitava alto, voltava a abrir os olhos e voltava a riscar na areia.
- O que fazes? - Perguntou o rapaz recém-chegado que ficara a olhar para ele com curiosidade.
- Escrevo poemas. - Respondeu o ancião.
- Mas... poemas?! Com riscos que não são letras nem desenhos...
Fez-se uma pausa, e depois o velho continuou:
- Não sei ler. E cada traço destes é uma ideia, um mundo que eu construo no meu interior. Estás a ver este traço? É uma ilha. A minha ilha. O que eu daria para poder ir até à ilha, voltar a estar com ela…
- Mas isso é fácil, amigo – iInterveio o jovem – É só ir ali pela ponte.
O ancião nem olhou na direcção que o jovem apontava. Fez mais uns traços na areia e sem levantar os olhos disse:
- A ilha que tu vês já não existe. A ponte que lhe fizeram é uma lança que a despejou da vida que tinha quando eu a visitava. Tinha de ir a nado na maré baixa, de banco de areia em banco de areia, e lá moravam os espíritos que sangraram até à morte.
Agora o rapaz olhava extasiado para ele.
- Conte como era a ilha no seu tempo.
O ancião olhou para o jovem e disse-lhe com ar grave:
- Não te posso contar o sítio onde fui feliz por instantes. A felicidade é feita só de instantes breves que ficam a morar no nosso espírito eternamente. Só assim a lembrá-las somos felizes durante a vida e repetimos os momentos. Mas a ponte sangrou os meus instantes e esvaziou a eternidade dos tempos. Como queres que te conte, se estou vazio?
O jovem olhou para a ilha e para a ponte e sentou-se junto ao velho.
- Por isso faz poemas na areia...
- Sim – disse o Ancião – faço poemas com a eternidade do meu pé ao passar por cima deles. São apenas instantes sem eternidade, essa foi-me tirada, nada mais me lembra, nada mais me resta, senão ir em frente sem olhar para trás, navegando nestes poemas que se desfazem como os rastos que a minha alma faz na água onde procura a ilha, num futuro que já não existe...
E, dizendo isto, ajeitou o pé e apagou o jovem e o diálogo que tinha estado a riscar com ele na areia da praia.

Charlie
adaptado de um belíssimo anúncio da Wella

5 de novembro de 2005

Feitas as confirmações, agora é só pagar


Vê aqui os detalhes

Somos 42 inscritos para o 4º Encontra-a-Funda (e praticamente todos confirmados).
Confere no quadro o valor a pagar por cada pessoa e faz a transferência do valor correspondente para o meu NIB:
0033 0000 00042669719 05 (Millenium BCP)
Desta forma, o fim de semana será passado sem preocupações e perdas de tempo com pagamentos (que é sempre fodido e nada erótico). O quadro será constantemente actualizado, pelo que podes confirmar aí se a tua transferência foi recebida.
Ah! O Nikonman já fez um mapa de Beja com os pontos-chave do Encontro.
Alguém mais que ainda se queira vir?

4 de novembro de 2005

A ilha - por Charlie

Pisei, olhando para a distância, a orla de areia que o mar lacrimejava.
Senti os pés húmidos e escutei o borbulhar suave da breve espuma que escorria entre a multidão de seres minúsculos que habitam o universo infindo das partículas de areia.
Aqui e ali, podia adivinhá-los a esconderem-se rapidamente e para sempre em segurança até que viesse a próxima vaga.
A Lua estendia o seu eterno mar de prata com o que inundava as praias das almas que sabem pertencer-lhe.
Eu sei que há pessoas que são pertença dela!
Sinto-os meus iguais quando estão junto a mim.
Todo o meu corpo fica presa das ondas que emanam dos seus mares.
Não preciso que digam nada.
Que me olhem, ou que sorriam.
Basta existirem próximo de mim.
Sinto-lhes o bater do coração dentro do meu peito e faz-se me um nó na garganta.
Sim, porque eu sou um ser da Lua...
Achei uma ilha!
A minha ilha fica mesmo ali quando a sua mãe sai parida do mar, subindo aos poucos no céu.
Nunca repararam?
Hão-de ver nos dias em que, já próximo da Lua Cheia, surge do nada rente ao horizonte.
Se olharem com um pouco de atenção verão no colo da mãe, num suave embalo, o perfil das palmeiras e coqueiros, encimando um peito de mulher.
É a minha ilha!
Quis sempre visitá-la. Penetro no mar e nado para ela até ficar sem forças.
Deixo afogar-me.
Já estive quase a chegar lá e guardo na minha boca o sabor das águas que banham os seus lábios...
Acordo sempre com os pés a pisar a areia e dou com a Lua já alta.
É sempre ela que me salva e me põe de volta neste areal imenso. A perder de vista.
Este areal sem fim antes não existia.
Era uma extensão de rochas onde eu era uma fortaleza inabalável.
Depois....
Depois descobri a ilha rente à lua, às portas do horizonte, e chorei a distância em mares e oceanos.
Agora tudo secou e dos meus olhos só saem grãos de saudades de uma ilha onde nunca estive.
Sentei-me um pouco a pensar em tudo e chorei um castelo de areia.
Uma onda veio e puxou-a para dentro de si.
Para o mar das lágrimas para onde escorrem os castelos das saudades...

Charlie

3 de novembro de 2005

Pela nossa auto-estima!

Recordam-se da Campanha por Beleza Real da Dove? Escrevi aqui sobre essa ideia, que achei um mimo e que vale a pena recordar:
"Devido aos media e às influências da vida quotidiana, as raparigas de todo o mundo querem ser mais magras, mais altas, mais loiras, terem um peito mais definido. [É necessário] superar esses ideais limitativos ao colocar o mundo da beleza no devido contexto".
Hoje apresento-vos a About-Face, uma organização norte-americana com 10 anos de existência e cuja finalidade é "combater imagens negativas e distorcidas das mulheres nos meios de comunicação social".
Listam empresas e campanhas que consideram ofensivas mas também as que consideram meritórias. Entre as quais... a Dove.
Estamos de acordo!

2 de novembro de 2005

Rock'n'Roll machine.

Uma singela e modesta sugestão para animar o Sarau do 4º Encontra-A-Funda. Que tal contratar este one-man-show para nos tocar um bocadinho de Rock 'n' Roll? Ele sabe muito bem o que é Rock 'n' Roll. Era sucesso garantido.
Mas pronto, o que está pensado também serve. Para quem é...

Este é um post sem a minima carga sexual ou obscena. Uma simples mulher nua que fosse! Nada! Sinto-me envergonhadissimo!!!! Bom, para minimizar os estragos fica aqui, sei lá... isto, por exemplo, a que eu carinhosamente chamei "Mãos ao alto!"

1 de novembro de 2005

Já temos programa - Confirma a tua ida!


Vê aqui os detalhes
Até dia 4 confirma a tua ida e em que opções te inscreves (autocarro, jantar, alojamento e almoço).

Recomendo-vos este livro



Em cada corpo a corpo se procura
o espírito das águas onde a alma
por vezes paira sobre a face obscura
e só depois do fim encontra a calma

essa calma tristíssima de quem
volta a si de repente e sabe então
que enquanto um se esvai e outro se vem
ninguém é de ninguém ó solidão.

Suprema solidão que vem depois
de findo o corpo a corpo sobre a cama
quando nunca se é um e sempre dois

e só um cigarro triste ainda é chama
e um último pudor puxa os lençóis
e a cinza cobre o amor que já não ama.

Manuel Alegre, Sete Sonetos e Um Quarto (oito poemas eróticos com ilustrações de João Cutileiro) - D. Quixote (engraçada, esta associação de ideias: Manuel Alegre e D. Quixote)

30 de outubro de 2005

A lição final - por Charlie

Parte IV

Num sorrir, misto de enigma e lascívia, continuou a passear o objecto cilíndrico pelo corpo, flutuando entre as axilas e umbigo, passando debaixo dos peitos, subindo pelo meio deles enquanto projectava o outro braço e o corpo para cima, em bicos dos pés, atirando a cabeça para trás e deixando os cabelos ainda húmidos fundir-se num corpo em retorta de magia.
Pelo ar, cheiros dos corpos ainda quentes do banho, espalhavam uma suave auréola de ilusão que me transportava nos braços em transes hipnóticos, fluidos e contínuos entre os claros escuros daquele espaço.
Ela continuou nos seus voos oníricos e aproximou-se um pouco mais.
Pegou numa toalha quase vermelha e com ela entrosou-se numa coreografia que levou quase até ao fim da lição.
Inflectiu, encolhendo os ombros fazendo sobressair os peitos que se juntaram, desenhando, com o vibrador, círculos à volta dos mamilos que se iam enrijando à medida que a pele ia ficando toda arrepiada. Fazia isto lentamente, assumindo poses que se metamorfoseavam de umas para as outras numa dança contínua e sensual. Escondia e mostrava o sexo. Circulava com o corpo pela minha imaginação sabendo muito bem tirar partido do valor dos momentos, da simulação e dos encantos transitórios e flutuantes, ocultando-se habilmente com a toalha semi escondendo assim tudo o que pretendia mostrar.
Punha-se de perfil e de costas, de pernas trocadas, sempre em movimentos de neblina, translúcidos até ao ponto onde a visão se perde na densidade da realidade mergulhada nos vales que adivinhamos, e onde gotas de orvalho se nos formam nos lábios e nos trazem gostos de desejos e lembranças escondidas nos nossos sonhos íntimos mais secretos.
Enroscou a boca num ombro e, com a cabeça voltada para o lado, mordeu-se enquanto os seus olhos iam adensando o nevoeiro que dentro de mim se espalhava em farrapilhos levados por ventos cada vez mais intensos. Abrindo e fechando portas misteriosas em meias sombras feitas de emoções em rotação permanente, vindas das profundezas dos tempos quando o Homem das cavernas descobriu na Lua o poema de ver Mulher na sua companheira...
Aproximou-se.
Rodou depois o corpo e a minha fantasia, e com as mãos cruzadas à frente descobriu brevemente a entrada do seu Paraíso. Aromas de países irreais e distantes aprisionaram-me todo o corpo e tentei deitar-lhe a mão.
Afastou-me imperiosa!
Ela era a Mestra. Eu, um mero aprendiz.
Os olhos dela deitavam o lume do desejo primitivo misturado com a vontade de exercer a soberania sem concessões.
Agora estava junto a mim, de pé, corpo projectado contra o tecto, de mamilos hirtos a coroar uns peitos firmes por trás dos quais espreitavam dois olhos dominadores que me engoliam. O aparelho descia pelas ancas direito aos meus ombros onde ela se encostava com o sexo a poucos centímetros de todo o meu querer.
Passeou o aparelho pelo meu tronco detendo-se nos mamilos, desceu para o umbigo e para a zona genital ao mesmo tempo que toda ela se ia derretendo mãos e boca em mim. Estava completamente arrepiado!
Sem um ruído deslizámos um sobre o outro, corpos entregues na fusão total dos sentidos. Línguas a devorar o desejo nas bocas que se asfixiavam de tanto querer.
Mergulhámos mais uma vez no reino dos Deuses de corpos abandonados à Eternidade.
Mestra e aluno no êxtase de uma eterna primeira lição que nunca mais parei de aprender...

Charlie

28 de outubro de 2005

A lição - parte III - por Charlie

Entre espumas que escorriam em rios pelos nossos corpos, conseguimos finalmente respirar.
Ofegantes e de músculos em progressivo relaxe. A pressão do nosso abraço entrando no remanso do porto de abrigo, fim desejado de toda a viagem que desafia a intempérie em mar alto. Deixamos as cabeças descansar, encostadas aos cais dos nossos ombros por entre as pequenas ondas em desvanecimento que a água do duche desenhava em caprichos sem nexo.
Não sei quanto tempo estivemos assim. Sabia-me bem o conforto e o sentir daquele corpo que parecia conhecer o meu desde sempre. A cabina cheia de vapor, a água escorrendo-nos pelos corpos de sexos entregues e o tempo parado.
Levantou a cabeça. Tinha ainda os olhos fechados. Abriu-os lentamente e apenas lhe vi o branco dos olhos. Senti-lhe os músculos a apertar. Aquela mulher era um vulcão. Estava pronta para outra. Agarrou-me, beijou-me novamente e senti o corpo a responder ao estímulo que a Mestra impunha.
Subitamente parou. Abriu a porta circular, e saiu fechando depois as torneiras.
- Toma - disse e atirou-me uma toalha - Seca-te e deita-te aqui.
Fez uma expressão que me chegou a assustar. Vi-lhe fogo nos olhos e senti-lhe na voz de comando o gosto a sangue de uma predadora.
- Agora é que vai começar a lição. Já alguma vez experimentaste orgasmos múltiplos?
Não lhe respondi. Afinal estava ali para aprender. Fiquei a olhar para ela em expectativa.
Ela aproximou-se do meu corpo já deitado na marquesa onde ela havia posto um cobertor. Lentamente começou a passar as mãos por mim. Levantou-me uma perna e pegou-me num pé. Sem desviar o olhar dos meus olhos, passou a língua pela sola, o que me fez cócegas e arrepios. Mexi-me com o riso e o desconforto.
- Ai o menino ainda tem cócegas... - riu-se ela. E continuou com mais sapiência, subindo devagar, com percursos que eu nunca antes sentira, pelas pernas e voltando aos pés. Repetiu várias vezes.
Avançou com dois dedos andando na minha perna até chegar quase aos testículos, onde parou a breves milímetros, passando os dedos muito ao de leve por eles.
Sabia muito bem o que fazer para deixar um homem completamente louco.
Depois, juntou os dois joelhos e fê-los subir, colocando depois a cabeça entre as minha coxas. Aproximou a boca do objectivo. Pôs a língua de fora e avançou. Eu olhava para ela cada vez mais excitado. Estava já no ponto. Mas ela, com toda a sapiência, ia doseando os estímulos, mantendo-me onde ela queria.
Nisto, ela afastou-se. Fiquei surpreendido. Mordi os meus lábios enquanto via o seu corpo maravilhoso a andar de costas para mim. Dirigiu-se ao armário.
Abriu a porta e, após remexer um pouco, voltou-se com um objecto na mão.
Aproximou-se de mim e a rir disse:
- Isto não é só para as mulheres... - enquanto exibia alegremente um vibrador que passava pelos mamilos, descendo pelo umbigo e esperando o meu olhar antes de prosseguir...

(continua)

Charlie

25 de outubro de 2005

A lição - parte II - por Charlie

Ela era uma verdadeira mestra dos sentidos.
Depois de me ter desabotoado a camisa mandou-me deitar e, peça a peça, descalçou-me os sapatos, despiu-me as calças e as meias, deixando-me só com a fina peça de tecido interior.
Ficou a olhar para o meu corpo de vinte e poucos anos. Toda ela em deleite de um poema espontâneo temperado com a experiência do saber.
Deu-me a mão e levantou-me novamente.
Não desviou o olhar do meu. Encostou-se ao lado de mim, o púbis junto à minha anca.
Pôs-me uma mão no ombro e devagar, com a palma da outra mão encostada ao meu estômago, foi descendo, vencendo muito devagar a ténue resistência do elástico. A perna esquerda ligeiramente subida roçando levemente a parte de trás das minhas pernas. Os lábios quase a morder os meus, mas mantendo-se ali mesmo a um dedo de alcance, fazendo-me aumentar do desejo e ferver todo o sangue dentro de mim. Parou, pegando-me nos testículos em concha, deixando escapar o membro por entre o polegar e o indicador. Muito ao leve massajou-me, apertando os dois dedos em anel de forma a aumentar a erecção. Sentia todo um tremor a atravessar o corpo.
Na minha mente todo um exército avançava de espada em punho, cavaleiros em poesia prontos a derrubar triunfalmente as portas do paraíso entrando de trombetas no mundo dos deuses. O cheiro de mulher a derrubar todas as barreiras. As mãos a percorrer-me o corpo de músculos todos retesados em antevisão do gozo supremo.
Subitamente parou e, encostando-se a mim, levou-me para o duche, uma cabina de tamanho pequeno.
Entrei e abri as torneiras sentindo a maravilha do contacto da água com a pele num corpo que estava sequioso e ardendo em desejo. O elemento líquido corria e juntava-se em cascata na convergência das pernas deslizando pelo beiral do meu corpo, metáfora duma ejaculação constante e fertilizadora em simbiose e entrosamento com a Mãe água que caía fecundada de mim.
Senti um alívio da pressão e respirei por entre as nuvens de vapor.
Nisto, ela entrou também e com alguma dificuldade fechou a porta circular deslizante.
Corpo divino de mulher encostado ao meu, escorregando pelos rios que me enchiam o corpo e a mente.
Voltei à pressão máxima, agora com ainda mais ilusão e querer.
Pôs-me as mãos nas ancas e com uma sapiência absoluta fez-me deslizar para dentro dela. Ainda hoje não sei como conseguimos fazer aquilo num espaço tão exíguo. Já não era um exército que invadia o paraíso. Era um mar de línguas, de corpos em convulsão. Perdidos numa tempestade de emoções que invadiam toda a cabina para onde o Céu havia mergulhado.
A água a bater-nos no rosto e escorrendo pelos corpos que os braços escorregadios mal conseguiam abraçar.
Encostámo-nos firmemente um ao outro, entregues à loucura do momento que vale para todo o sempre, numa explosão breve da Eternidade...

(continua)

Charlie

23 de outubro de 2005

4º Encontra-a-Funda

Já seremos 29 no karalhoke com a Tuna Meliches.

E tu, vais a Beja nos dias 26 e 27 de Novembro?

A lição - por Charlie

- Venho cá para o serviço completo! - Disparei de chofre depois de ter entrado e dado as boas tardes.
O som ficou a soar-me nos ouvidos como se as palavras não tivessem saído da minha boca.
Durante uma breve dentada do tempo o pêndulo do relógio saltou uma fracção de segundo, deixando-me para trás, espectador de mim mesmo, ouvindo a minha voz e apercebendo-me do valor da projecção do meu corpo no espaço.
Ela ficou a olhar para mim, esboçou um breve sorriso e continuou a arrumar as coisas em cima da bancada.
- Sente-se nesta cadeira... se fizer favor... - Respondeu-me após uma pausa, enquanto rodava na minha direcção e apontava com uma escova de cabelo, de olhar perdido na luz que entrava da rua e onde se desvanecera num instante breve o reflexo da última cliente da tarde.
Dei dois passos para o lado olhando para o espelho que alinhava agora a minha imagem com a dela, deixando-nos ligeiramente sobrepostos.
- Não é aqui que pretendo o serviço... É lá dentro.
De repente parou. Fez-se silêncio. Colocou-se numa postura de costas direitas e altivamente olhou-me nos olhos.
- Repete lá isso, rapaz?!
Engoli em seco, e repeti com a voz seca:
– Lá dentro... Quero que me ensine tudo...
Olhei bem para ela, num tom de desafio sem desviar o olhar.
Era uma mulher já bem entrada nos quarenta. De físico seco, linhas do rosto firmes e de uma beleza quase exótica. Olhos muito azuis a destacarem numa pele ligeiramente bronzeada que se fundia à altura dos ombros nas nuances claro-escuro de uns cabelos louros muito soltos e sonhadores.
Analisava-me com um olhar meio perdido. Dentro dela muita coisa estava a passar-se. Pousou a escova e dirigiu-se a mim. Olhou-me bem nos olhos, que não se desviaram. Depois, sem dizer-me nada, foi até à porta e fechou-a.
- Quem te falou em mim? - Voltou-se ela.
- Ninguém! - Menti-lhe eu. – Ando a observá-la há umas semanas...
Não me deixou dizer mais nada. Pegou-me na mão e empurrou a porta que ligava para o interior do salão de cabeleireira. Apertou-me as mãos a querer sentir-me a alma na força com eu que agarrava no aperto dela. Olhou-me bem nos olhos e aproximou o seu corpo ao meu, fazendo-me sentir um universo de cheiros e aromas de mulher misturadas com lacas, shampoos e perfumes.
- Andas a observar-me?! Mentes mal... Queres um tratamento completo, não
é? – E sem mais nada dizer tapou-me a boca com os lábios, mordendo-me levemente e massajando a língua no céu da minha boca, por entre os assaltos da minha aos alvos correspondentes dela.
- Humm. – Disse – Beijas com furor! Gosto disso... Vamos primeiro tomar um duche. Só alinho com homens muito bem lavados e cheirosos.
Nem me deixou dizer mais nada. Começou por desabotoar-me a camisa, botão a botão, muito lentamente, como tudo o que se aprende na vida e que permanece vivo para sempre.
Descobri com ela, para o resto do meu existir, a espiral de ser um aprendiz eternamente navegando no Universo infinito da primeira lição, entre águas e espumas num navio em permanente naufrágio num corpo de mulher...

(continua)

Charlie

21 de outubro de 2005

Causas pelas quais vale a pena lutar

Declaração Universal de Direitos Sexuais
1) liberdade sexual - possibilidade de cada ser humano expressar o seu potencial sexual, incluindo-se todas as formas de amar sem discriminação, independentemente do sexo, género, orientação sexual, idade, raça, classe social, religião, deficiências mentais ou físicas e excluindo-se todas as formas de coerção, exploração e abuso;
2) autonomia sexual, integridade sexual e segurança do corpo - inclui o controlo e o prazer do corpo livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo;
3) privacidade sexual - direito às decisões individuais e aos comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos sexuais dos outros;
4) prazer sexual - inclui auto-erotismo, enquanto fonte de bem-estar físico, psicológico, intelectual e espiritual;
5) expressão sexual - direito de expressar a sexualidade através de formas de comunicação e expressão emocional;
6) livre associação sexual - remete para a possibilidade de casamento ou não, divórcio e estabelecimento de outros tipos de associações sexuais responsáveis;
7) escolhas reprodutivas livres e responsáveis - remete para a decisão de ter ou não ter filhos, o número e tempo entre cada um e o acesso total aos métodos contraceptivos;
8) informação baseada no conhecimento científico, com base em princípios éticos e disseminado a todos os níveis sociais;
9) educação sexual compreensiva;
10) saúde sexual.

Versão aprovada no XV Congresso Mundial de Sexologia - Hong Kong, Agosto de 2000
Fonte: livro
«A Lei do Desejo» de Ana Cristina Santos, Edições Afrontamento, 2005

Estamos tão longe!...

Don Juan - por Anukis

Juan era um homem com carisma. Apesar de não ter uma beleza chamativa de cair para o lado, tinha bastante charme. Era inteligente, tinha sentido de humor e podia sustentar uma conversa sobre qualquer tema. Tinha uma voz grave quase radiofónica que embalava quando se tornava íntima. Estava habituado a ter tudo o que queria, principalmente com as mulheres. Fazia questão em seduzir o máximo possível, não por uma questão numérica, mas pelo constante desafio. Vivia mal com hábitos e rotinas. Gostava de viver em locais diferentes, de conhecer sempre pessoas novas. Se acreditasse em reencarnação, teria sido nómada numa vida anterior.

Cátia era uma mulher doce de quem toda a gente gostava. Não era vistosa, nem sequer era uma deusa sexual. Tinha uma sensualidade quase inocente. Tinha um corpo bonito curvilíneo que escondia por baixo de roupas sem formas. Vivia ainda num mundo infantil, apreciava os momentos e o afecto que as pessoas lhe queriam dar. Sorria bastante e divertia-se com quase tudo. Exigia o melhor de si mesmo que oferecia aos outros como presente, mas pretendia nada em troca. Se acreditasse em reencarnação, teria sido a fada Sininho.

Juan foi-se aproximando de Cátia aos bocadinhos. Todos os dias metia conversa. Ela respondia sempre educadamente e com simpatia, mas não mais que aos outros. Na verdade, não entendia o que é que o sedutor nato via nela. Ele podia ter mulheres bem mais bonitas e sofisticadas, bem mais elegantes e badaladas. Que tinha ela de especial?

Juan estava cansado de sair com capas de revistas. Estava cansado de mentiras, de lhes dizer o quanto elas eram especiais, quando na verdade eram todas futilmente parecidas. Estava farto de falar sobre modas, festas, locais e pessoas vips. O que o atraía na Cátia, era aquele sabor da infância que sorvia sempre que falava com ela. Sentia-se de novo menino. Apetecia-lhe molhar-se todo a saltar por cima das poças de água, de lambuzar-se todo a comer um gelado enorme e de falar e rir horas a fio sobre tudo e sobre nada sem ter que estar sempre a manter a pose de sedutor. E assim foram-se passando os dias, numa aproximação crescente.

Um dia, finalmente, Cátia cedeu ao desejo crescente que Juan despertava nela. Desde que ele lhe dissera que dormia completamente nu, que não parara de fantasiar. Tinha-se esquecido que era corpo e ele fazia-a sentir-se mulher. Encontraram-se num quarto de hotel. Nervosismo de ambas as partes, flagrante na Cátia e invisível em Juan. A química entre eles era quase perfeita. Não fora o quase teriam tido talvez das noites de sexo mais escaldantes das suas vidas. Mas o quase estava lá. Um quase recheado de reservas da Cátia, porque uma mulher até pode ceder ao desejo mas não quer dizer que se entregue completamente a um homem. Um quase de sedutor latente no Juan, porque o homem esqueceu-se de ser menino e voltou a colocar a máscara de sempre.

Separaram-se já passava muito a hora do almoço. Tinham tomado juntos o pequeno almoço frugal do hotel, entre olhares fugidios e banalidades. Foram cada um para seu lado. Na boca, um sabor amargo, dos beijos que sabiam que nunca mais voltariam a trocar...

Anukis

19 de outubro de 2005

4º Encontra-a-Funda

Notícia de última hora

A Mad informa:
O restaurante já está reservado e o vinho é garantidamente alentejano.

E tu, já te inscreveste? Já somos 28!

16 de outubro de 2005


Já somos 24!
(e só agora começou a contagem)

Rotinas... - por Charlie

Entrou no autocarro e seguiu para o sítio habitual onde ela estava.
Todos os dias repetia os mesmos gestos que já se haviam tornado rotina.
Vestido com o fato de macaco, de cor azul, sujo de manchas de óleo já secas e indefinidas.
Por onde passava deixava um leve aroma a gasóleo misturado com os cheiros do corpo.
Mas chegou-se a ela como fazia todos os dias.
De pé e atrás, com os cabelos dela quase enfiados no nariz, aspirando o gostoso sonho que há no cabelo de uma mulher.
Segurou bem na pega superior e encostou o sexo a ela.
Devagar, sentindo como ela consentia.
Encostou mais e reparou como mais uma vez ela se entregava toda no desejo que a tomava.
Esfregou-se por ela e fez descer a mão para a anca pressionando levemente.
Deu-se conta como o seu respirar tinha aumentado de ritmo, e como ela mordia o lábio.
Encostou-se mais e fez descer a mão, que tremia ao ritmo das pedras da rua debaixo das rodas. A cada travagem e aceleração do veículo os corpos respondiam com uma coreografia em uníssono.
O autocarro parou. Saíram os dois sem dizer nada um ao outro.
Ela nem olhou para trás.
Ele encetou o caminho de regresso a pé.
Dois quarteirões depois entrou na garagem de um prédio.
O fato-macaco bem enquadrado no ambiente.
Olhou bem para todos os lados e foi direito ao elevador.
Tirou um cartão de acesso restrito e entrou.
Parou no último andar.
Despiu-se, tapou a roupa com um grande plástico e pendurou-a num armário.
Tomou um duche rápido e vestiu-se.
Penteou o cabelo curto com critério e ajeitou um pouco melhor a vestimenta.
Pôs um pouco de perfume e sorriu para o espelho.
Regressou ao armário onde tinha o fato-macaco.
Levantou o plástico e remexeu no bolso das calças.
Guardou o dildo na mala e foi novamente para o quarto onde tinha os sapatos de salto alto para a noite.

Charlie

15 de outubro de 2005

Em Novembro este blog completa dois ânus.
O 4º Encontra-a-Funda será no centro do universo: em Beja, nos dias 26 e 27 de Novembro, com um patrocínio de luxo: a Mad e o Nikonman.
No sábado (26/11) haverá um jantar com animação cultural . Já está confirmada a presença da Tuna Meliches, que nos oferecerá uma sesSão de karalhoke. O OrCa irá mostrar-nos o seu novo livro e oder-nos como só ele sabe... hmmm... e ainda estão em curso negociações para mais eventos. Providenciar-se-á (até custa a escrever) alojamento para quem quiser ficar para Domingo, em que faremos uma (ar)Rota dos Vinhos e um almoço à moda da Coisa da Mana (seja lá o que isso for soa delicioso). Depois de almoço, vai cada um para sua casa.
Para já, marquem nas vossas agendas. Os detalhes (transportes, alojamento, ementas, preços, etc.) vir-se-ão depois.

12 de outubro de 2005

Recordação de uma noite vulgar - por Charlie

Quantas vezes lhe tinha dito que não queria voltar a vê-la? Nem sei.
Uma e outra vez lhe dissera que a nossa relação tinha sido algo apenas pontual. Algo passageiro e sem intenções de continuidade. Ela própria confirmara na noite que passáramos juntos, semanas antes, que não mais queria ver-me.
Agora ali estava mais uma vez!
Tudo começara naquela noite.
Não muito longe do mar.
Um cruzar de olhos naquele bar.
Um aceno de cabeça e um afastar devagar para a porta.
Depois, o regresso ao balcão.
Para o extremo oposto onde ela estava.
Mais cruzar de olhos.
Mais sinais do corpo.
A aproximação.
Encostamo-nos num conversar em tom baixo num jogo de dupla sedução, em lento crescendo.
Aumentando o calor em cada volta que a espiral ganhava, subindo mais e mais alto.
Senti todo o corpo tomado pela vertigem do desejo e saí com ela para a rua.
No fresco da noite, os nossos olhos brilhavam em múltiplos reflexos das luzes com que iluminávamos as nossas almas e que enchiam de claridade o escuro das ruas. Beijámo-nos e senti-lhe todo o corpo em mim. Demos as mãos e mais uma vez os lábios.
Depois fomos para a minha casa. Nem chegámos ao quarto. Em plena sala, em cima do sofá, enrolámo-nos na entrega que os corpos pediam ardentemente.
Naufragando nos nossos mares em tempestade, afundando-nos e vindo ao cimo angustiados abocanhando o ar dos nossos lábios, por entre as línguas que ansiavam respirar. Os corpos em afogamento, delírio e convulsões. Numa imensa vaga, todo o navio submergiu, rompendo-se em espuma contra os rochedos junto à praia, num espectáculo interior que só se vive a dois.
Depois ficámos a olhar um para o outro. Exaustos e satisfeitos.
Minutos de silêncio e descanso.
- Não quero ver-te mais - disse.
- Eu ia dizer-te isso mesmo também - respondi-lhe devagar. E continuei:
- Prometo ser como de costume muito discreto. Podes estar descansada.
- Sabes? Eu sou casada. E isto foi... nem sei como explicar... ele não está cá...
Saiu sem me dizer mais nada, deixando-me a pensar na minha vida de solteiro inveterado, destinado a vagabundear dos braços de umas para as outras, em cima do fio da adrenalina, do sentir o coração delas fraquejar a cada avanço meu e outras vezes apercebendo-me do ângulo inverso. Depois de conquistadas e levadas para a cama, perdiam o interesse e passava para a conquista seguinte.
Nunca lhes prometera mais que o céu nos encontros que com elas tivera. Nem casamentos, nem viver juntos. Nada! Só a aventura pura e dura. Um instante de suprema felicidade em que os nossos corpos se entregavam numa loucura completa. Sexo!
Depois? Depois seria a ressaca, a bonança depois da tempestade. Cada um iria às suas e eu começaria de novo no meu ritual de caça, numa rotina sempre nova.
Agora ali estava ela. Com uma mala na mão e nos olhos a porta aberta para entrar na minha vida para sempre.
- Deixei o meu marido... - disse ela nessa noite.
Olhei para ela a dormir ao lembrar-me da altura em que ela chegara.
Já lá vão trinta anos...

Charlie

9 de outubro de 2005

O voyeur - por Charlie

Conheci-o numa altura em que estava prestes a sair de Lisboa e nessas últimas semanas passara-as a tratar de arrumar coisas.
Naquela noite estava com o meu amigo de andanças nocturnas a beber uma Cerveja no Trindade. Ele já me desafiara para irmos rivalizar as pontas das telhas com os gatos, e contar lérias à Lua, enquanto bebíamos o seu reflexo nos olhares quentes de uns corpos de mulher em desejo. Mas nesse dia apeteceu-me mesmo ir para a cama mais cedo e só.
Ele foi-se embora - iria dar uma volta, dissera - e nessa noite arranjaria algo
para passar a noite envolvido na aventura dos sentidos.
Não duvidei. Aliás ele tinha sido o meu mestre na arte do engate. Toda a linguagem do corpo e toda a sedução ensaiada era com este mestre do fingimento. Por vezes aborrecia-me com ele por estar farto dos clichés. Sempre gostei da aventura cantada de forma genuína. Por isso ele gostava de andar comigo. Eu tinha sempre uma abordagem arriscada. Gostava de sentir a presa a fugir e depois ir buscá-la mais adiante com mais calor, com mais entrega e empenho vividos da minha parte. Ele curtia com gozo a forma como eu trocava o certo pelo incerto mas isso, dizia-lhe eu, é que dá o travo e sabor à aventura e à conquista.
Nessa noite não me estava a apetecer nada e ele saiu deixando-me com o tipo que mal conhecera uma hora antes, mas já dos círculos de amizade do meu retirado parceiro.
Era um vendedor de remédios. Dos tais que passam a vida a fazer peso nos corredores dos hospitais, esperando pelos doutores e apresentando a última maravilha em elixires da eterna juventude e a saúde em comprimidos e quejandos. Conversava pelos cotovelos e era homem sabedor de muitos ambientes nocturnos onde mostrava ter amplos conhecimentos.
Depois da última cerveja e das conversas sobre mulheres despedi-me dele, dizendo que tinha de apanhar o comboio já que o meu amigo tinha levado o carro.
- Eu posso levá-lo. - adiantou-se - Moro próximo de Paço d´Arcos.
Concordei. Afinal ir de carro é muito melhor que esperar pelo comboio. Parou em Caxias.
- Moro aqui, não quer subir?
Achei um pouco bizarro mas seria falta de educação não aceder ao pedido. Subimos e, mal entrámos na sua casa - um primeiro andar - reparei nela. Uma mulher que exalava dos poros tudo o que um homem precisa. O marido foi para a cozinha tratar de umas bebidas depois de ter arrumado a pasta com papéis e deixou-nos sós.
Ela mirou-me de alto a baixo e eu fixei-me no seu olhar. Aproximou-se de mim e sem mais deitou-me a mão à braguilha. Fiquei petrificado pensando que a todo instante poderia aparecer o marido. Ele surgiu de facto, mas já aí ela se afastara.
- Vou só ali ao carro buscar uma garrafa que hoje me ofereceram.
Saiu de imediato e fechou a porta. Sem mais, ela atirou-se a mim. O corpo em fúria e desejos. Eu estava estupefacto, e sem saber bem como, respondi aos avanços. Em dois tempos estávamos nus e envolvidos numa incrível sessão de loucura, sob o espectro de a todo o momento o marido entrar pela porta. Mas, por estranho que pareça, foi precisamente esse sabor do risco que me deu o maior gozo. Toda aquela adrenalina fazia entrar o meu corpo em efervescência. O simples facto de tudo poder acabar em tragédia excitava-me loucamente e ela sabia tirar todo o proveito disso. Explodimos em arcos-íris de gemidos e convulsões.
Nesse mesmo instante entrou ele. Não da porta da rua, mas da porta da cozinha.
Nas calças adivinhava-se, pelo vulto, o estado em que estava.
- Sim senhor. Portou-se à altura! Tome! - E deu-me um copo de whisky com gelo - Com água? - Continuou ele.
Fiquei sem resposta, olhando para os dois. Com o rosto que passara de rubor a pálido. Sentindo o irreal do copo frio nas minhas mãos perante a minha nudez. Ela riu-se e beijou o marido.
- Sabe, jovem, o que o excita é ele ficar a ver-me com estranhos. E eu, quando estou com eles, fico perdida de excitação pelo facto de senti-los no mais absoluto pavor de serem apanhados pelo meu marido. Ele limita-se a dizer que sai mas fica escondido a ver tudo.
- Vamos, querido? - disse, pegando-o pelo braço - Agora, jovem tem de ficar a
ver que só assim ele atinge o pleno orgasmo e eu, pela minha parte, perco-me
por orgasmos múltiplos. Sente-se no sofá, e fique a olhar...

Charlie

7 de outubro de 2005

6 de outubro de 2005

Publicidade Descarada

O Meu Frigorífico
(Façam o favor de enviar a fotografia do vosso
frigorífico para blogotinha@hotmail.com)

30 de setembro de 2005

Febre - por Anukis

Sentia o corpo todo dolorido. Costumava aguentar todas as doenças e maleitas de pé. Nunca tinha tempo para estar deitada a dormir quanto mais a ficar doente. Vivia sozinha e habituara-se a não precisar de ninguém. Mas, desta vez, tinha mesmo que se deitar. O termómetro marcava 40,5º e chegara a um nível que ela já não conseguia aguentar.
- Maldita gripe, resmungou para si mesma. Para o ano, tomo a vacina.
Não se lembra bem como nem quando, entrou em delírio. Tinha tomado uns medicamentos quaisquer que a médica tinha recomendado. A febre ainda não baixara e ela não conseguia mexer-se nem sequer raciocinar claramente. Tinha apenas em cima do corpo o lençol e mesmo assim sentia-se deitada em cima dum lago.
- Tenho que mudar de roupa ou meter-me na banheira com água morna para baixar a febre, pensou já em delírio.
Não conseguia levantar-se e adormeceu dum sono povoado de sensações estranhas. Havia uma mão que lhe tirou os cabelos colados ao rosto. Passava-lhe algo de húmido na testa e no pescoço. Hummm que sensação refrescante. A mão, talvez duas, não se lembrava bem, acariciavam-lhe o corpo. Pareciam orvalho acabadinho de cair de madrugada. Começou a desejar que aquelas mãos não parassem, que a envolvessem toda, que as mãos tivessem corpo, boca e língua, que pertencessem a um homem que a desejasse de igual forma. Só queria que não parassem. Tornar-se-ia flor para ele: o clítoris em orquídea só para ele.
As mãos pareciam ouvir os seus pensamentos. Das mãos nasceram uma boca que lhe murmurava palavras de amor, uma língua que a deixava doida e um corpo que era pele a roçar a pele dela. Afinal já não amaldiçoava a gripe. Há muito que tinha esquecido estas sensações e agora recordava o quanto eram deliciosas.
- Hummm mãos, boca, língua, pele. Vem até mim, disse ela em súplica.
E foi ouvida: sensações, prazer, deleite, êxtase...
Acordou no dia seguinte, já sem febre e com o corpo relaxado e cheiroso, apesar da febre.
- Tenho que parar de fantasiar - pensou ela.
E virou-se para a mesinha de cabeceira para beber um pouco de água. Ficou atónita. Havia uma caixa de dodots que nunca tinha visto antes. Como tinham lá ido parar?...

Anukis

29 de setembro de 2005

A Rosa da Pastelaria - por Charlie

(continuação dos Cobertores do Ti Ferro)
Esperou que eu saísse com o meu sorriso enigmático cheio de pensamentos sobre o Ti Ferro.
Desejei do fundo do coração que ele tivesse encontrado aquele grande amor que lhe correra mal e que lhe marcara toda a vida.
Despedi-me do idoso e saí.
Lá dentro da pastelaria, a proprietária voltara ao espaço destinado ao público e olhava para mim, que me afastava devagar atravessando a rua.
Rosa, assim era o nome dela, deixou os pensamentos vaguear pelos anos decorridos até ao dia em que entrara pela primeira vez na drogaria do António Ferro. Ia comprar apenas um pouco de palha de aço. Tinham acabado de montar a pastelaria e queria tudo num brinco. Umas persistentes manchas nuns azulejos junto à casa de banho teriam de ser retiradas a bem ou a mal.
Entrou na drogaria, descendo um degrau. Naquela zona de Lisboa de declives acentuados é frequente parte das casas estarem abaixo do nível do solo. Encarou o António pela primeira vez, que a mirou também. Sem dizerem quase nada ele aproximou-se e tocou-lhe na face com as costas da mão. Ela sentiu-se invadida por uma sensação que nunca havia experimentado antes. Era casada havia três anos e jamais sentira com o marido o que de repente lhe estava a acontecer. O coração a acelerar, a respiração em ritmo curto e a pele em erupção.
Sem desviar o olhar disse-lhe ao que vinha e ele entregou-lhe o pedido. Olhou mais uma vez para ela, vendo como o olhar não se desviava. Abriu a gaveta, e deu-lhe a chave. Disse-lhe:
- Depois das seis horas. Essa chave é a das traseiras. Onde está uma tabuleta a dizer bar.
Eram quase sete quando o António sentiu a chave na porta. Ela abriu-a e ficou olhando para o interior. Hesitando entre o passo que queria dar e a vontade da fuga daquela loucura.
António saiu ao seu encontro e puxou-a para dentro. De imediato apertou-a nos braços e beijou-a. Ela rendeu-se completamente e correspondeu. Os corpos num abraço apertado e as línguas em delírio total como se quisessem fundir-se num só corpo, numa só alma.
O que teria aquele homem para tê-la atraído assim? Num rebate de consciência veio-lhe a ideia do marido à mente, da sua dedicação... mas isto?... Isto era a aventura pura. Tinha o corpo a ferver. Ele esperou um pouco e perguntou-lhe baixinho e pausadamente o que queria tomar.
Perante a hesitação dela, ele avançou no lance e preparou dois cocktails onde um dos ingredientes era um pouco de água da torneira. Molhou os lábios, era doce e ao mesmo tempo de gosto férreo forte. Bebeu mais um pouco e sentiu o calor do álcool descer lentamente até ao estômago, invadi-la e espalhar-se num desejo que lhe tomava todo o ser. Os olhos de ambos
irradiavam a loucura dos corpos em efervescência.
Num salto subiram as escadas e atiraram-se sobre a cama. As mãos navegando no Tejo dos corpos, as línguas numa dança louca, esvoaçando nos céus das bocas no meio das gaivotas que gritavam em triunfo sobre a grande clarabóia.
Nem deram pelos instantes em que os ventos da paixão lhes levaram as roupas; velas dos mastros que se desprendem sob a fúria das tempestades.
Penetrou-a lentamente, apesar dos corpos pedirem tudo, enquanto lhe mordiscava e lambia os peitos. Sentiu todo o seu corpo estremecer de prazer.
Ela nem podia acreditar no que estava a fazer. Filha de pequenos comerciantes, moradora na Praça da Figueira, escapara incólume aos piropos e brejeirices do Terreiro do Trigo, Campo das Cebolas, Chão do Loureiro e demais sítios onde os triângulos amorosos competiam com as aves ribeirinhas por um lugar onde pousar no mastro de qualquer embarcação de breve estadia.
Só conhecera o homem com quem casara.
O namoro com o seu marido, fora de sete anos. Coisa séria. Um beijo, coisa insípida, só ao fim de meses, e uma breve estreia dos prazeres da carne só umas semanas antes do casamento.
Mas agora, estava em pleno vulcão prestes a explodir. Com um homem dentro dela que mal conhecia. Presa por um sentimento que nem pensara ser possível existir. Sentiu de repente que vivera toda a sua vida rodeada dum cenário de papel e que bastara um breve gesto para esfaquear a ilusão e ver o mundo com todas as cores que estavam para lá da sua redoma.
Penetrou-a mais até sentir-se todo dentro dela. Empurrou-se mais para dentro e ela acompanhou-o apertando mais o corpo, com os olhos fechados, abertos para o vislumbre do Paraíso que sentia chegar a todo instante.
Ele fechou os olhos, repetiu a penetração, rodou o corpo e perante ele surgiu o rosto do grande amor da sua vida que ficara perdida numa partida fera pregada pelo destino. Duas lágrimas correram-lhe pela face e salgaram os lábios dela, dando-lhe o sabor ao mar imenso que estava vivendo, e onde ele navio em tempestade era, sem que ela soubesse, uma alma em naufrágio
pelo amor perdido.
Num estremecimento mútuo, todo o rio se precipitou numa enxurrada naquele quarto enquanto o céu caía da clarabóia para dentro daquelas duas almas perdidas no abraço breve à eternidade...

Charlie

24 de setembro de 2005

Os cobertores do Ti Ferro - por Charlie

Conheci-o numa das minhas voltas pela Lisboa antiga, numa altura em que se podia
ouvir cantar o fado, atrás das janelas, andando às cegas pelas ruas de Alfama,
subindo direito às sombras do Castelo e descendo depois para as ruelas que acabavam num abraço junto ao rio.
Olhei para aquela montra e entrei. Perguntei pelo preço dos cobertores que estavam na montra. Só depois de ter feito a pergunta é que reparei no despropósito. Era uma drogaria, com todas as coisas próprias deste tipo de negócio e onde mantas e cobertores não tinham aparentemente lugar.
Ele sorriu e disse-me:
- Dão sempre jeito na mala duma carripana de qualquer jovem.
E, dizendo isto, foi buscar uma e embrulhou-a, dando-me o preço com um pequeno desconto para acertar o valor. Ao mesmo tempo, entrou um homem que pediu um garrafão de água férrea. Ele pegou num garrafão, dirigiu-se à parte de trás do estabelecimento e voltou depois com o dito já cheio. O cliente pagou e saiu.
Fiquei curioso. Perguntei-lhe se tinha uma nascente e ele, vendo-me na ignorância e preso à ingenuidade da minha juventude, disse-me encostando a porta:
- Você é jovem, não é de cá... pensei que soubesse. Mas deixe dizer-lhe umas coisas.
Deixe-me ajudá-lo nestas questões da vida.
E puxou-me para a parte de trás da loja. Era um bar pequeno, completo com bebidas, dois bancos altos e uma mesa junto à porta para a rua das traseiras, que estava fechada.
- É aqui onde me entretenho depois das horas do expediente, agora siga-me!
No cimo das escadas havia um pequeno quarto, sem janelas mas com uma enorme clarabóia a iluminar uma cama e uma cadeira.
- E aqui é para onde as trago depois de um copo, mas quase sempre isso só acontece à primeira vez, porque à segunda querem logo vir para o quarto,sem mais nada! Elas entram na loja para comprar uma merda qualquer, tipo 5 escudos e gesso e eu dou-lhes a chave do bar. Voltam mais tarde quando já estou fechado. Nunca entram pela porta da frente. Como o bar nunca abre e a rua de trás é só de armazéns, tenho aqui o ideal para papá-las sem dar nas vistas.
Ficou olhando para mim e de repente acordou:
-Ah, pois, a água. As coisas são muito engraçadas. Esta água é da torneira, mas não sei se é de um cano ferrugento ou não sei que coisa possa ser, ela tem um sabor férreo e propriedades especiais.
Piscou-me o olho:
- Tem um efeito afrodisíaco. Queres levar uma garrafa, miúdo?
- Não preciso. Veja lá se com 23 anos queria que me faltasse a tusa.
- Pois a mim já me faltou com a tua idade, uma só vez e foi logo com uma gaja que me pôs maluco.
Olhou para mim e disse em jeito de sentença:
- Nunca te apaixones. Fode-as o mais cedo possível e passa para a seguinte. Conselho de quem sabe!
Já era a segunda vez que ouvia esse conselho no espaço de uma semana. O meu parceiro de cowboiadas e noitadas, um pouco mais velho que eu, já me dissera o mesmo. E logo eu, que sempre ligara os olhos de uma mulher a um naco de poesia a correr num rio de emoções ao primeiro toque dos lábios. Ele adivinhou os meus pensamentos e interrompeu-me:
- Quando as abordares pensa com a pila e não com o coração - e piscou-me o olho.
Abriu-me uma gaveta e mostrou-me um livro com nomes e cruzes. Cada nome uma mulher, cada cruz uma queca.
- Pensas que estas gajas não tem em casa afecto e carinho? Pensas que elas não tem quem as aqueça à noite e lhes faça sentir a poesia de dormirem agarrados um ao outro? Não é isso que elas procuram! Querem sexo puro e selvagem. Aventura! Foder! Sem compromissos.
Esperei um pouco olhando para ele e perguntei-lhe:
- Quando você está com elas pensa em quem?
Desviou os olhos para o chão e não me respondeu, mas eu disse-lhe:
- Pensa nela...
Ficámos a fitar-nos uns segundos eternos. Sem respirar, a medir-nos, a pesar coisas. Como que a querer terminar a conversa, disse-me:
- Nunca laves o cobertor. Eles são mergulhados nesta água antes de eu os pôr à venda...
Voltei anos mais, já sem o carro que tinha e sem o cobertor, e procurei pelas ruas a drogaria do Ti Ferro. Não a encontrei mas no lugar onde me parecia ter sido, havia um enorme buraco no chão e uns escombros resguardados por tapumes.
Desci uns bons cinquenta metros e entrei numa pastelaria antiga que já existia nesses distantes anos. Perguntei à senhora já idosa que estava ao balcão pela drogaria, mas ela respondeu que nunca se lembrara de haver ali nada. Retirou-se para o interior e de uma mesa respondeu um senhor, já idoso também:
- Ela não gostava dele. A minha mulher ia lá buscar coisas que precisava e tinha de voltar mais tarde reclamar que ele tinha aviado as coisas mal e havia sempre trocas a fazer. Um valdevinas! Olhe aquilo ruiu tudo com uns canos que rebentaram debaixo da casa. Ele foi-se embora. Encheu o carro com uns garrafões e umas mantas e nunca mais o viram. Partiu. Disse a uns que vêm aqui às vezes que ia resolver um assunto antigo...
Sorri.
Desejei do fundo do coração que ele a tivesse encontrado....

Charlie

18 de setembro de 2005

Encomenda - por Anukis

Já não sentia o próprio corpo. Regressava a casa, após mais um dia entendiante e cansativo. Entrou no prédio carregada de sacas de compras e, claro, a porta estava fechada. Quando vinha sem nada, estava sempre escancarada para trás. Procurou a chave no meio do caos da sua mala. No finzinho de tudo. Já que estava ali, foi ver qual das simpáticas contas para pagar lhe tinha escrito. Nenhuma.
Ao invés, tinha lá uma pequena encomenda de correio verde. Para ela?! Devia ser engano! Não... Era mesmo para ela. No remetente, um apartado qualquer. O que seria?! De quem seria?! Enfiou a caixa numa das sacas e dirigiu-se para o elevador.
Uns andares mais acima, abriu a porta. O cão ladrou. Sinal da sua chegada. Alerta aos vizinhos. Pousou as sacas na cozinha. O cão deu uns pinotes de contentamento. Bifes para mim, parecia ele dizer. Meteu no frigorífico os frescos e os congelados. Tirou o casaco e pegou na encomenda. Abanou-a. Não emitia qualquer som e era leve. Com uma faca, tirou a fita-cola e abriu-a. Corou violentamente! Uns boxers! A caixa trazia uns boxers dentro, e masculinos! Ainda bem que não tinha cedido à curiosidade e não tinha aberto a encomenda à frente do vizinho do 8º andar que costumava galá-la com o olhar no elevador. O coração batia quase dolorosamente com o espanto. "Depois penso nisso", falou para si própria. Foi tratar dos seus afazeres. Jantar. Loiça. Umas roupas para pôr a lavar e estender. Minutos que se transformaram em horas passaram sem que os pudesse agarrar.
Banho. Merecia um duche bem quente para descontrair o corpo mortiço. Mmmm a água pelo rosto e pelo cabelo. Lavou-o bem lavado. Ensaboou-se sempre com água quente a correr pelo corpo, pelos ombros e pelo pescoço, doce massagem. Já não se lembrava da última vez que umas mãos lhe tinham massajado o pescoço, nem que um homem a tivesse acariciado. Vivia fechada sobre o próprio corpo, sarcófago de sensações adormecidas. Enrolou-se no roupão. Secou o cabelo numa toalha. Passou creme para amaciar a pele. Vestiu a sua camisa de noite avermelhada que tinha comprado num desses dias, em que lhe apeteceu fazer uma loucura. Para quê? Ninguém nunca a tinha visto, nem nenhumas mãos lha tinham tirado.
Deitou-se na cama, cabelos ainda húmidos, refrescantes na almofada. Na mesinha de cabeceira, em cima do habitual livro: a encomenda. Tirou os boxers da caixa. Eram simplesmente brancos. A medo, aproximou-os do nariz. Cheiravam a qualquer coisa que não sabia bem definir. Cheiravam-lhe a homem. Imperceptivelmente, ficou acelerada. Apeteceu-lhe tirar a camisa e sentir a frescura dos lençóis na pele. Tirou as cuecas. Cheirou-as. Tinham cheiro a sabão porque tinha acabado de as vestir, ainda não tinham guardado o seu próprio cheiro. Apeteceu-lhe sentir a textura dos boxers pelo corpo. Acariciou-se ao de leve com eles no peito, sobre a barriga e na parte interna das coxas onde a pele era mais tenra. O cheiro dele tinha-lhe ficado retido nas narinas. De olhos fechados, imaginou-o ali ao lado dela.
Ele aproximou-se. Encostou o seu corpo nu ao dela. Sentiu um frémito irresistível. Ele, na sua boca. Ele, no seu pescoço. Ele, agarrado às suas nádegas. Uma mão entreabre-lhe as pernas. Um dedo atrevido no seu sexo. Respiração acelerada. Dedo dominador que a tomou sem reservas. Não há qualquer pudor no desejo que cresce por dentro de uma forma quase violenta. Geme, mas apetece-lhe gritar, dizer-lhe coisas obscenas ao ouvido. Que ficaria ele a pensar? Pergunta perdida no meio do furacão de sensações que se abate sobre ela, com aquele dedo que simplesmente não pára, nem pretende parar. Chora. É demasiado. Não consegue conter as sensações dentro do corpo tanto tempo fechado.
Abre os olhos. Ele não está ali, mas está. O cheiro dele fez emergir nela a vontade de ser mulher, de voltar a sentir, de ceder aos impulsos e aos desejos. Paz. Corpo aberto. Corpo saído do sarcófago da insensibilidade. Agora, ela era todo corpo.
Adormece nua, agarrada aos boxers, a pensar que amanhã tem de descobrir de quem são...

Anukis
Estórias duma deusa

A deusa Anukis amamenta
Ramses II, já adulto

Queres ver uns boxers brancos? Crica aqui

16 de setembro de 2005

Anúncios parecidos

A malta da Coloribus.com (*) diverte-se com a publicidade quase tanto como eu.
Têm uma colecção engraçada de anúncios eróticos.
Mas o que nos traz aqui hoje é a sexão (sim, sim, secção de sexo... ou sexo enorme) dedicada a anúncios parecidos. Entre muitos outros, aparecem estes:

sorrisos verticais

(*) experimenta cricar no aviso "Do not press this red button" na página de entrada... (mas antes liga o som).

8 de setembro de 2005

"Publicidade - todos a fazemos"


Anúncio a promover a publicidade
(crica que alarga)

Este anúncio à Advertising Week 2005 causou muita polémica entre feministas, religiosos fervorosos e puristas em geral.
Eu acho um mimo... e uma grande verdade... hmmm...

7 de setembro de 2005

Um simples SMS... - por Charlie

Histórias de sol e sal na primeira pessoa

Estava um fim de tarde daqueles em que só apetece subir pelas paredes.
As estâncias de veraneio têm a virtualidade de nos libertar o corpo e de fazer-nos arrepiar a pele nos desejos que à nossa frente se nos oferecem.
Tudo corre ao sabor do vento que carrega a leveza das ondas que nos lavam a mente.
Nas areias, ao entardecer, a quase nudez entra-nos olhos adentro e transporta-nos lá, onde todos queremos estar.
Naquela ilha, onde só existimos nós e o paraíso no corpo de quem olhamos e cobiçamos.
Depois de observar, desde a praia dos pescadores, os e as resistentes adoradores do pôr do sol, resolvi beber uma caneca de boa cerveja holandesa na esplanada de um bar muito próximo, onde se consegue seguir todo o tumulto do movimento da noite que se aproxima. Ao mesmo tempo vê-se quem vem da praia e foi assim que a conheci.
Inglesa, dos seus trinta e poucos anos e divorciada duas vezes, com um namorado que tinha ficado em Iglaterra.
Depois de ter tomado um belo golo da cerveja, tirei o telemóvel e comecei a digitar uma mensagem para uma pessoa amiga. Levantei o aparelho e. com o cotovelo em cima da mesa e o polegar em dança contínua, dei com os olhos dela a olhar para mim.
- Quem pensa que está a fotografar?
Ri-me para ela. De facto, não esperava que alguém se viesse meter comigo. Descansado na minha mesa a beber uma caneca...
- Desculpe - disse a rir como convém - mas eu só estava a digitar uma short message e... - olhando bem para ela verifiquei como era bonita e alterei o discurso - ... mas sente-se comigo e tome algo. É minha convidada.
- Por quem me toma? Eu só quero que o senhor apague a foto que me tirou sem autorização.
Nesse meio tempo eu já me tinha levantado e chamado o empregado. Pus-me ao lado dela e baixinho disse-lhe para se sentar que eu ia mostrar-lhe as fotos do meu telemóvel. Assim ela poderia verificar que não lhe tinha tirado nada.
- Toma...?
- Pode ser uma cerveja, também... - disse ela sentando-se enquanto verificava o meu telefone. Olhava para mim com breves olhares e regressava ao visor.
O momento era de expectativa.
Durante uns segundos esperei a reacção. Depois tudo se desanuviou com o quase repentino acender das luzes nocturnas. Vi como ela mordia os lábios com algumas coisas que lhe iam aparecendo pela frente. Entretanto eu ia-me rindo por dentro.
Perguntei-lhe se estava só, ao que ela respondeu que tinha vindo com uma amiga, além das outras coisas que já referi anteriomente. Pediu-me desculpas e disse-me que sabia de casos de fotos que apareciam com montagens na Net.
Esperei um pouco enquanto ela me mirava, bebendo um pouco e concentrando-se em mim.
Respondi-lhe, a olhar muito fixamente nos olhos, que eu montar, montar, só de uma maneira...
- Posso demonstrar-lhe como faço - disse-lhe num suave sorriso enquanto o meu pé descalço subia pelas pernas dela, que se ajeitavam para receber-me enquanto a cerveja fresca me afogava a alma em golfadas de prazer.

Charlie

6 de setembro de 2005

Contos de sol e sal na primeira pessoa - por Charlie

Tinha estado um daqueles dias de sol que apetece.
Pela tarde a praia estava a abarrotar de gente. Muitos a secar e outros tantos a molharem-se de água e sal, em divertimento.
Passeando pela areia, onde o mar joga com a secura e a firmeza da transição nos permite andar mais depressa, ia eu olhando para os corpos lindos de mulher expostos aos olhares e às mãos bronzeadoras do sol.
Uma chamou-me a atenção.
Estava meio deitada, com um cotovelo apoiado e segurando com a outra mão uma máquina fotográfica.
Olhei para ela e ela sorriu. Fiz para ela uma pose a fingir e ela riu-se mais. Dirigi-me a ela. Era italiana mas arranhava castelhano.
- Não quero estragar com a minha imagem a tua máquina. - disse-lhe, sempre a rir - Queres que te tire umas fotos,não é?
E acto continuo bati-lhe umas quantas de corpo inteiro e outras duas de meio corpo.
Convidei-a para tomar algo refrescante mas ela disse que tinha vindo com uma colega.
- Ela saiu há mais de duas horas com um namorado que arranjou para aí.
- Então vamos nós - desafiei-a.
Arrumou as toalhas e seguimos.
Perguntei-lhe como se chamava, o que fazia na vida e essas coisas que pouco interessam quando o que queremos é beber nelas o calor que os seus corpos nos lançam.
Engolimos umas cervejas e passados vinte minutos estávamos no quarto dela a afinar as aberturas e a testar os enquadramentos.
Passámos à fase das poses e acabámos os dois no quarto escuro a fazer umas ampliações e montagens.
Sempre gostei do quarto escuro. Focar, enquadrar e montar. Dar o tempo certo e mergulhar na tina. Ver surgir do nada o objecto no revelador e na altura certa metê-lo no fixador, foi sempre um fascínio que me levou a ter paixão por esta parte desta tão nobre arte.
Outros gostarão mais de ter a máquina na mão e um olho tapado e outro aberto. São afinal estes os verdadeiros mestres. Os que sabem usar a mão na máquina e pôr o olho no rolo.
Eu fico-me pelo ponto de luz no meio da escuridão que tanto me atrai.
Desta tarde de praia levo uma boa recordação dumas fotos bem tiradas...

Charlie