25 de fevereiro de 2007

Geladinho




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21 de fevereiro de 2007

A igreja e o carnaval

Padre Mário de Oliveira - imagem de www.esquerda.netPara quem, como eu, caíu num caldeirão de igreja na sua meninice, é muito difícil encontrar dentro da instituição igreja exemplos a ouvir com atenção e muito menos a seguir.
Surpreendeu-me, por isso, este texto do Padre Mário de Oliveira, feito no seu diário numa quarta-feira de Cinzas: «Deus gosta mais do Carnaval» [site www.esquerda.net]
Eis alguns excertos (mas recomendo que leiam mesmo o texto todo):
"Ontem foi o dia de Carnaval. E, hoje, é o dia de Quarta-feira de cinzas. Entre um e outro, qual será o dia que Deus prefere? Tenho para mim, que Deus gosta mais, muito mais, do dia de Carnaval, do que do dia de Quarta-feira de cinzas, apesar deste ser iniciativa da Igreja."
"(...) Mas como é que Deus poderia gostar mais do dia de hoje, Quarta-feira de cinzas, do que do dia de ontem, Carnaval? Não é Ele o Deus da Alegria e da Festa? Não é Ele o Deus da Vida e dos Vivos? Não é Ele o Deus da Plenitude e da Abundância? Não é Ele o Deus do Excesso e da Ressurreição?"
"(...) Ora, se ontem foi o dia da Folia e do Erotismo sem barreiras, hoje, por determinação da nossa Igreja católica romana, é o dia da Tristeza e do Sacrifício. Se ontem foi o dia da expansão da vida humana, hoje, é o dia da repressão da vida humana. Se ontem, as pessoas foram águias e puderam voar até à exaustão, hoje, não passam de galinhas de capoeira, condenadas a olhar para o chão, com a cabeça coberta de cinza. Se ontem os corpos humanos se mostraram nus e esbeltos, numa proclamação sem tabus da beleza erótica e da vida chamada à ressurreição, hoje são corpos sobre cujas cabeças, os clérigos - são, felizmente, cada vez menos os seres humanos que ainda se prestam a esse papel à frente das paróquias - depositam ritualmente cinza, ao mesmo tempo que dizem, "Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás-de tornar" (as mulheres, pelos vistos, não são tidas nem achadas, não são sequer nomeadas e, por isso, parece que poderiam e deveriam continuar o Carnaval sem qualquer interrupção; mas, por mais estranho que isso seja, a verdade é que são as mulheres quem, hoje, ainda mais corre a receber a cinza e a escutar estas absurdas palavras que o texto do Ritual católico se «esqueceu» de endereçar também a elas!). Ou seja, se ontem tudo nos dizia que a vida humana é bela e é para ser vivida até à exaustão, hoje, tudo nos diz que a vida humana não presta para nada e, por isso, o melhor é mesmo renunciar a crescer em idade, em estatura, em sabedoria e em graça - coisa que Jesus de Nazaré nunca fez, antes pelo contrário (cf. Lucas 2) - para apenas crescermos em derrota e em fracasso, até que a morte nos reduza a pó, a cinza, a nada."
"Está visto que, com as coisas assim, Deus só pode gostar do Carnaval e detestar o dia de hoje, Quarta-feira de cinzas, bem como a quaresma que com ela se inicia. Por sinal, a humanidade, cada vez mais liberta da nefasta influência do clero católico e da sua ideologia moralista, também gosta mais do Carnaval, do que da Quarta-feira de cinzas."
"(...) Só mesmo uma Igreja que, depois da derrocada do Império romano, se transformou em poder eclesiástico e em império religioso-católico, é que foi e é capaz de sentir sádico prazer em reprimir as pessoas que a integram e as populações em geral. E em castigá-las com cilícios. Com jejuns. Com abstinências. Com longas listas de pecados, cada qual o mais grave e o mais feio, a ter de confessar, de joelhos, aos pés de um clérigo que se deixou, ingenuamente, convencer de que Deus delegou nele o poder de perdoar pecados. Mas não só. Também com a sádica repressão dos corpos."
"(...) Mais. Se assim é, e é de facto, então, tudo isso que a Igreja católica tanto valorizou, são falsos valores, são manifestações concretas duma cultura desumanizada, repressiva, anti-humana, duma falsa cultura, duma cultura que tem tudo a ver com o culto dos deuses e das deusas do Paganismo politeísta e idolátrico, nada tem a ver com Jesus de Nazaré e com o Deus que se nos revelou definitivamente na sua prática de vida e na sua palavra, uma e outra, radicalmente libertadoras e promotoras da vida humana em plenitude e em abundância. E, igualmente, nada tem a ver com cultura verdadeiramente humana e humanizadora. (...)"

20 de fevereiro de 2007

Preta Gil

O Carnaval também é uma causa pela qual vale a pena lutar

Preta Gil é brasileira, cantora e actriz, filha de Gilberto Gil. Ela própria conta no seu blog a origem do seu nome.
Este ano foi a madrinha de bateria da escola de samba da Mangueira. E o que é que isso tem de especial? Muito! É que a Preta Gil sai - e sai-se muito bem - dos pseudo-padrões de beleza a que os meios de comunicação (e, em especial, a publicidade) nos habituaram. Vejam-se algumas das estrelas do Carnaval do Rio de Janeiro: Ângela Bismarchi; Cláudia Leite e Ivete Sangalo; Adriane Galisteu; Juliana Paes; Luciana Gimenez... entre tantas beldades mediáticas por minutos... ou um pouco mais... ou menos (fotos da Globo.com).
Felizmente, há quem não tenha complexos com quilinhos a mais. Como titula esta notícia do Estadao.com.br: "Entre musas e siliconadas, os ‘sem neura com o corpo’ se divertem". Mérito do Carnaval, se outros não tivesse.
Deixei hoje uma mensagem no blog de Preta Gil, que se «queixa feliz», como qualquer ser humano que passasse por aquele desfile: "até agora parece que foi um sonho, só não parece mais por causa das bolhas no meu pé e as feridas no corpo". A minha mensagem foi esta:
"Olá, Preta Gil. Enquanto ainda está com os pés doridos, envio-lhe um abraço com muito afecto e apreço de Portugal. Já é tempo de a beleza não ser regida por padrões completamente fora do «mundo real»."

É decerto uma causa pela qual vale a pena lutar.

9 de fevereiro de 2007

Referendo e paradoxo democrático - a opinião do OrCa

Picasso - Minotauro"Estou com o Zé quando diz que «esta não é uma questão de matéria, é de alma e coração». Por isso considero deplorável a ideia deste assunto ser referendado. Ninguém tem de circunscrever o livre arbítrio de ninguém... Mas, enfim, se estão assim as coisas feitas, vamos lá votar.
Por outro lado, o «nonsense» da matéria referendada é tal que se cai naquilo que poderia chamar-se um «paradoxo democrático». Porquê?
Ora porque o «não» impede o «sim», mas o «sim» não impede o «não». Isto é, se o «sim» ganhar isso não obriga qualquer adepta do «não» a abortar. Mas o inverso não sucede, pois se o «não» ganhar, a penalização incide sobre todas as mulheres... Sabendo nós bem como estas coisas vêm a funcionar quando o poder económico individual entra em cena, fácil é chegar à conclusão da hipocrisia por parte dos adeptos do «não».
Outra questão que me é pouco clara é o encarniçamento dessas gentes... Afinal, como já disse e é de conhecimento geral, a vitória do «sim» não irá obrigar nenhuma pia alma a abdicar das suas convicções. Então porquê tanta luta e tanta grita? Mero exercício de terapia ocupacional para os «benzaços» ou desnorte de extemporâneos espíritos reaccionários ou ele há gato escondido no assunto?
Quanto ao mais - e com o devido respeito pela diversidade de opiniões - vão lá à merda com as lágrimas de crocodilo pela «defesa da vida» de tantos desses «nãos» que aplaudiram (e aplaudem?...) o desvario criminoso do Bush no Iraque... Ai não tem nada a ver?... Se calhar, tem...
Depois, a vida já está no espermatozóide... Por este andar - e para amenizar - ainda assistiremos a algum adepto fervoroso do «não» a vestir luto, após alguma ejaculação nocturna decorrente de um sonho húmido.
E, cá para nós, na mesma lógica, era muito bem visto que cada cidadão que se masturbasse fosse bater com os costados na cadeia, culpado de umas centenas de milhares de homicídios neste país de tão baixa natalidade!... Tenham dó!"
OrCa

8 de fevereiro de 2007

Irresistível




Lingerie Blush

Referendo - dados trazidos pelo Zé

"[Apresento-vos] um quadro proveniente de um estudo efectuado pela Associação para o Planeamento da Família, organização favorável ao «Sim» (...)
A pergunta do estudo era a seguinte:
«Em que circunstâncias engravidou?» sabendo-se que o aborto foi o passo seguinte. Os resultados foram:
46,1% - Não estava a usar qualquer método contra...
15,0% - Descuido («Enganou-se nas contas»)
18,1% - Não sabe explicar (?)
[O total destas três razões dá 79,2%]
20,8% - O método contraceptivo falhou
O total dá 100%

Que interpretação se deve dar aos 79,2% de razões para abortar, sabendo-se que as % por grau de instrução (básico, secundário e superior) são praticamente idênticas?"


A educação sexual (não no sentido de "dizer obrigado no fim") é também, certamente, uma causa pela qual vale a pena lutar.