29 de janeiro de 2008

Ainda a propósito de prostituição...

... mais um texto do OrCa, deixado nos comentários deste poste:
"Um mercenário que vende o seu corpo para a guerra, sem lhe interessar muito contra quem nem a favor de quê, não será uma grande puta? Um político que ganha eleições por promessas que nunca cumpre porque o «pragmatismo» não o deixa... o que é? Vá, digam todos: uma grande puta! Não é?...
Isto da prostituição tem muito que se lhe diga. No fundo (ou mesmo mais acima...) tudo se prende com a arte de vender o corpo a favor de qualquer coisa...
Colocar crianças de sete anos, altamente mascarradas, a saracotearem-se pateticamente em passarelles sob o olhar embevecido e bovino dos cretinóides dos pais, o que será? Putedo, pornografia abjecta e promoção de pedofilia de alto lá com ele!
Tal como aqueles figurantes, pagos para aparecerem como alunos de escola modelo...
No fundo, no fundo, no verdadeiro fundo, as putas parecem-me menos putas do que muito putedo que por aí campeia...
Há tantas multiplas abordagens sobre esta questão... Faz toda a diferença saber ao que vai quem vende, tal como porque lá vai quem compra.

quando uma puta se vende
interessa ter atenção
se se vende porque acende
o fugaz de uma paixão
ou porque apenas pretende
trazer para casa o pão

e quem a compra afinal
compra o quê e com que fim?
por ser só um animal
que chafurda porque sim
ou porque o bem dele é um mal
de flor sem ter jardim?

(mau, mau... anda a dar-me para os moralismos e isto não é nada bom sinal!... Se calhar é por causa das catorze prestações aos reformados... É bem verdade, nem tudo o que nos fode é erótico)"
OrCa

Como diz o povo, quem ode e não é odido está ao Nelo a fazer um pedido:
"O Orca éi um tratadu
Já todos çabemos isso
É çó pena o çafado
levar tempos desaparecido

Oh Orca este broshe
Onde fazes tanta auzênsia
Explandeçe com o toque
do pueta: Voça Eçelênsia

É o verço de rima perfeita
O çentido irudito
Todo o meu pacote çe ajeita
Ai Orca que fico aflito

Nam fujas mais pueta
nem te fassas isqueçido
Vem ao broshe, tá ca o Nelo
Um leitor teu derretido.

Çó te deicho mais um coizo
Para ficares a pençar
Este broshe é çó um poizo
A minha caza éi melhor lugar

Lá taremos à vontade
Çeim olhares, complicasões
Farás puema até metade,
E eu depois metade até aos culhões..."
Nelo

Joker pin-up

Esta peça pertencia a um casal francês libertino a quem prometi que convidaria para verem a minha colecção logo que estivesse aberta ao público. E o prometido é devido... ou eu não me chamo São Rosas!





26 de janeiro de 2008

Um anúncio surpreendente


A evolução do homem


(para visualizares é preciso que faças parte do grupo de mensagens da funda São,
já que este e outros ficheiros estão disponíveis para membros e membranas
na página de ficheiros do grupo)

24 de janeiro de 2008

O mito da circuncisão masculina

Imagem de consultasurologicas.com.br
A propósito da excisão, nos comentários a Matahary alertou: "E então, dos meninos ninguém diz nada? Também é mutilação, maioritariamente sem consentimento."

Sobre este tema da mutilação sexual masculina, o link que ela indicou é interessantíssimo. Refere-se lá, a respeito de mitos:

"O prepúcio é só um pedaço inútil de pele."
FALSO. O prepúcio é tecido erógeno especializado. Apenas pela sua ausência, homens circuncidados sentem consideravelmente menos prazer sexual. Ele é também uma estrutura protectora da glande contra factores externos e mantém a sua humidade adequada. Não apenas no homem, mas em todos os mamíferos, a glande é um órgão interno, exposto apenas durante a excitação sexual. Sem ele, a superfície da glande pode ficar queratinizada - grossa, seca, rígida, e quase insensível.
Além disso, muitos homens nem percebem mas, na relação sexual, o pénis não se deve mover dentro da vagina. O correcto é que ele se mova dentro da própria pele, que permanece quase imóvel. A isto chama-se acção de deslizamento - impossível para um homem circuncidado - que reduz imensamente o atrito e torna o acto sexual muito mais agradável para o homem e sua parceira.

"Os bebés não sentem dor."
FALSO. Os bebés são extremamente sensíveis à dor, até mais do que os adultos, o que torna a circuncisão um procedimento traumático (...).

"A circuncisão ajuda na higiene do bebé."
FALSO. Ao contrário, só atrapalha: ela facilita o contacto de uma parte delicada do corpo com sujidades externas - especialmente as fezes do próprio bebé na fralda (...).

"o meu filho tem fimose."
FALSO. Nos bebés, o prepúcio e a glande normalmente estão aderidos, e é normal que esta condição dure até por volta dos 4 anos de idade. Em alguns casos, pode durar até à adolescência, sem que isto constitua qualquer problema de saúde (...).

"A circuncisão é uma operação segura."
FALSO. Para cada 100.000 circuncisões, talvez se evitem 900 infecções urinárias (facilmente tratáveis com antibióticos) e um caso de câncro do pénis (geralmente associado à presença do vírus HPV, em que o uso de preservativo teria o mesmo efeito). Por outro lado, faz-se com que todos esses 100.000 meninos passem por momentos de dor extrema e, mais tarde, tenham a sua capacidade de sentir prazer sexual severamente reduzida; 7.000 sofrem outras complicações, de gravidade variável. Pelo menos um bebé morrerá. Os efeitos psicológicos também são sérios - em muitos casos, os mesmos notados em vítimas de estupro (...).

"É nossa tradição cultural/religiosa."
IRRELEVANTE. Nenhuma crença ou costume pode justificar um crime. A circuncisão é um crime, inegavelmente, pois trata-se de flagrante violação do direito mais básico do ser humano: a integridade do próprio corpo.

"A circuncisão é irreversível."
FALSO. Uma boa notícia para quem é circuncidado: é possível recuperar uma parte do que você perdeu.

Pão! Pão! Pão! Pão! Pão!...



Será que alguém já se tinha lembrado de usar o sexo para promover pão? Descobrimos no AdGabber que, se não havia, passou a haver.

21 de janeiro de 2008

Museu de Arte Erótica em Veneza

O Nikonman, que sabe do que eu ando à procura, enviou-me um video sobre o Museo d'Arte Erotica, em Veneza.
Só eu é que não encontro quem queira investir num espaço similar em Portugal...

Entretanto, se esta notícia de Novembro de 2006 estiver correcta, este museu já fechou:
"il museo d'arte erotica a Venezia non «tira» e fallisce
Ha dato fallimento il museo d'arte erotica a Venezia.
Pochi visitatori e tante spese a quanto pare sono le ragioni che hanno indotto il giovanissimo museo a dare fallimento, l'affitto del palazzo soprattutto pare avesse raggiunto cifre insostenibili. Poca fortuna per il museo d'arte erotica di San Marco a Venezia: nonostante la posizione, particolarmente importante, nel cuore del centro storico della citta', per l'esposizione e' stata stabilita la chiusura definitiva entro il 28 novembre. Pochi gli incassi per uno numero ridotto di visitatori hanno determinato il fallimento del curioso museo che apri' tra le polemiche e i sorrisi dei piu' maliziosi a febbraio, a ridosso del Carnevale.
Il museo e' ospitato, ancora per qualche giorno, a Palazzo Rota, a due passi dalla piazza piu' celebre del mondo: tra le varie sezioni anche una dedicata ad alcuni inediti del re del cinema erotico Tinto Brass. Naturalmente l'ingresso e' vietato ai minori di 18 anni. Il Museo d'Arte Erotica e' collegato nell'organizzazione al ben conosciuto Muse'e de l'Erotisme di Parigi che da dieci anni dedica le proprie sale alla liberta' d'espressione artistica intorno all'eros."

(adoro a língua italiana... hmmm...)

20 de janeiro de 2008

Semana Europeia de Prevenção do Cancro do Colo do Útero

20 a 26 de Janeiro de 2008
O cancro do colo do útero pode atingir qualquer mulher.

O colo do útero é a região final do útero, onde esta afunila para se ligar à vagina. Este cancro envolve o crescimento descontrolado das células que revestem o colo do útero. Embora possa pôr a vida da mulher em risco, a vigilância feita através do exame de Papanicolaou torna possível detectar este cancro na fase inicial, a tempo de ser tratado e curado. E agora, que existe a vacinação, a maioria dos casos de cancro do colo do útero pode ser prevenido antes mesmo de se iniciar.

O cancro do colo do útero é causado pelo Papilomavírus Humano, ou HPV. Este vírus pode ser transmitido durante as relações sexuais, ou mesmo durante o contacto genital pele com pele, pelo que toda a mulher sexualmente activa está em risco de contágio.

Os preservativos podem reduzir o risco de infecção mas não a protegem totalmente contra o HPV. Isto porque a pele em torno da região genital pode, também, conter o vírus.

. Até 80% das mulheres sexualmente activas serão infectadas por algum tipo de HPV, ao longo da sua vida;
. Felizmente, a maioria destas infecções desaparece de forma espontânea;
. No entanto, se a infecção não desaparecer pode evoluir para cancro.

Juntos, o rastreio e a vacinação oferecem a melhor protecção possível contra o cancro do colo do útero.
Lembra-te: pergunta ao teu médico o que é melhor para ti.

AnotaSão: Papanicolaou ou citologia cervical é o exame preventivo do cancro do colo do útero.
Georgios Papanicolaou (1883-1962) médico grego-americano considerado o pai da citopatologia.
O exame consiste basicamente na colheita de material do colo uterino. É citológico, examina a morfologia das células da mucosa do colo do útero.

17 de janeiro de 2008

Publicidade da Wonderbra

Aproxima-te do monitor e concentra o teu olhar na espiral:


11 de janeiro de 2008

O mito porno - a opinião de Naomi Wolf

O MN enviou-me um artigo de opinião entesantíssimo de Naomi Wolf na página New York News & Features.
Segundo esta autora, "afinal, a pornografia não intensifica os apetites dos homens - fazem-nos desligar da realidade."
Os receios de alguns (incluindo feministas) é que a pornografia faça com que os homens vejam as mulheres de forma adulterada e degradante, como mulheres-objecto e, numa versão mais pessimista, com um efeito dominó de violações e outros tipos de caos sexual.
"De facto, a pornografia quebrou o dique que separava uma busca privada, adulta e marginal da corrente pública dominante. O mundo inteiro pós-internet pornografizou-se. Jovens de ambos os sexos estão a ser ensinados sobre o sexo, a sua etiqueta e as suas expectativas, através de treino pornográfico e isto está a ter um efeito enorme na forma como interagem".
Constata: "Mas o efeito não está a ser os homens tornarem-se bestas enraivecidas. Pelo contrário: a investida do porno é responsável pela redução da libido masculina em relação a mulheres reais, fazendo com que os homens vejam cada vez menos e menos mulheres como «porno-meritórias». Longe de terem de se desenvencilhar de rapazes tarados, as mulheres jovens estão a preocupar-se por, como mera carne e sangue, dificilmente conseguirem obter, quanto mais manter, a atenção deles".
Afinal, como se consegue concorrer com o cibersexo perfeito, que até se consegue descarregar e desligar à nossa vontade?
"Na maioria da história da humanidade, as imagens eróticas foram reflexos ou celebrações ou substitutos de mulheres reais nuas. Pela primeira vez, o poder e o fascínio das imagens suplantaram os das mulheres reais nuas".
"Tenho 40 anos e a minha é a última geração feminina a experimentar esse sentido de confiança sexual e segurança naquilo que tínhamos para oferecer. As nossas irmãs mais novas tiveram que competir com os filmes pornográficos dos anos 80 e 90. Agora temos que oferecer ou sugerir a cena lésbica, a cena da ejaculação na cara... Estar nua não é suficiente; tens que estar em forma, bronzeada sem marcas, as tuas mamas içadas cirurgicamente e depilada com cera tal como as estrelas porno."
E conclui: "A pornografia é viciante. No novo milénio, uma vagina - a qual, diga-se, costumava ter um valor de troca elevado, como diriam os economistas - mal consegue ter registos na escala da excitação. A pornografia dominante - e certamente a da internet - tornou rotineiro o uso de todos os orifícios femininos disponíveis".
Isto não é nada erótico. E não é isto que nós queremos, pois não, malta?

5 de janeiro de 2008

a política da prostituição

Isto, a bem dizer, tudo é político. Não tem é de ser partidário... ainda que seja bom que cada um tome partido pela sua causa.
(É lixado isto dos conceitos baralhados, mas a verdade é que as palavras querem dizer qualquer coisa... E conceitos transviados só servem para aumentar a confusão, digo eu...)
Esta questão - a da prostituição legalizada ou não - é mais uma das militantes hipocrisias em que vivemos atascados. Sendo evidente que a prostituição - entendida como venda do próprio corpo para fins sexuais - concentra em si muito de indignidade humana, não é menos verdade ser ela velha como o mundo (patriarcal) e apoiar-se na miséria sexual que advém de vivermos espartilhados por conceitos moralistas e pseudo-éticos, que são incutidos como travões ao livre arbítrio, sempre tido como perigoso e subversivo para quem detém o poder...
Daí o tal poder - ou p(h)oder, para amenizar a conversa - sempre se ter servido, também, da prostituição, vendo-a com um olhar benevolente - por ela constituir uma fonte de 'esvaziamento' de tensões... e, não raro para políticos com visão para o negócio, poder constituir até matéria colectável.
A insatisfação sexual não deve ser vista de ânimo leve e qualquer estadista que se preze saberá - mesmo que ele próprio, em vale de lençóis, possa não estar à vontade - que cidadão recalcado e ressentido é foco de problemas sociais.
Donde, se por um lado se estigmatiza o 'fenómeno' como moralmente indefensável, por outro se condescende até ao limite da institucionalização - as tais casas de passe, ou bares de alterne, ou o que se queira - por ser consensual que a queca funciona como terapia ocupacional para atenuar tensões de primeira água. E para quem não se descontraia no remanso do lar, porque não fazê-lo onde encontre aconchego?
Não deixa de ser curioso verificar, a título de exemplo mas desviando um pouco a conversa, para ser mais abrangente, a bonomia com que se encara a 'aventura fugaz' nascida no bar onde se bebe um copo com os amigos e se consuma no banco de trás do carro, em aflições desvairadas, em contraponto com a crítica social à 'facada conjugal' com a vizinha, a amiga lá de casa ou a colega de emprego (claro que, aqui, o emprego do feminino pode ser trocado pelo masculino, que vai dar ao mesmo). Reflexos, também, estas divergências de pareceres, da tal miséria sexual de que os entendidos falam e os nossos pudores hipócritas querem ignorar, mas toda a gente conhece... e, porventura, a grande, imensa, esmagadora maioria pratica ou, quando não, tem muita pena.
É subordinado a estas dicotomias que se analisa, geralmente, o problema da prostituição, isto é, deixando nós resvalar a nossa opinião para a dependência em relação a 'dados adquiridos', pretensamente sociais, sem olharmos bem para dentro de nós próprios.
Se a prostituição é um fenómeno social que advém da forma como toda a sociedade está organizada, para a combater será de pensar em combater as causas sociais que a originam e não a prostituição em si, que não nos levará a lado nenhum. A bem dizer, é - mutatis, mutandis - como a questão do consumo da droga...
Uma verdade como punhos é aquela de todos sabermos que a prostituição consentida mas não oficializada promove o fenómeno da chulice, com o seu mafioso cortejo de violências, de forma indecorosa e sem qualquer espécie de controlo. E, então, por aqui não devem também as nossas conscienciazinhas ficar abaladas?
Quanto às casas de passe, ou de tias, ou de putas, mais ou menos rascas, ou em vivendas de jardim e piscina... trata-se apenas de regras do mercado. Ou não? E, nessa perspectiva, é bem melhor um colchão, mesmo ruidoso, em cama desconchavada, do que uma parede emporcalhada, em beco mal iluminado e à chuva (a não ser que haja especial predilecção por este modelo).
Afinal, frequentar uma casa de passe ou não frequentar uma casa de passe, essa sim, será também uma questão de formação individual, se quiserem, mas fundamentalmente de livre arbítrio.
Do outro lado, as (e os) prostitutas (e os) emergem do fenómeno social por consabidas razões de miséria social e continuarão a emergir enquanto as actuais condições se mantiverem.
Neste caldinho, funcionam apenas as leis de oferta e de procura, por muito cínico que alguém queira entender o conceito.
Para remate, também estou em crer que a pedofilia às escâncaras num Parque Eduardo VII talvez não fosse de tão fácil ‘amanho’ num estabelecimento legalmente aberto...
Nem será, a partir da legalização, muito admissível ou justificável a oferta de prostituição em lugares públicos, no momento em que sejam legalizadas as casas de passe. A não ser mediante a emissão de recibo verde, claro!...
E tudo o resto não passará, na minha humilde opinião, de conversa da treta.

4 de janeiro de 2008

Petição online pela prostituição legalizada

Portugal Diário: "Está a circular na Internet uma petição que tem como objectivo agendar a discussão parlamentar da legalização da prostituição e das chamadas «casas de passe».
É uma iniciativa de José António Pereira da Silva, para quem a prostituição em Portugal é um caso de «desregulação completa». «Esta actividade estava regulamentada e era fiscalizada até 1 de Janeiro de 1963 e, a partir de então, deixou de o ser e começou a entrar em roda livre», explicou o advogado invocando razões de «segurança, de saúde pública, de decência e da própria actividade social» para que este problema seja «encarado de frente».
«Só não vê o que se passa quem não quer. E quem denota tanto cuidado e tanta preocupação investigatória relativamente a aspectos tão particulares da vida social como o Governo, é de espantar que não se preocupe com uma questão que também é pública. Não fazem sentido nenhum campanhas contra a SIDA e contra a hepatite B sem pegar esta questão de frente e acabar com a prostituição de rua», apontou.
No texto da petição, entre os argumentos apresentados, é invocado que «qualquer cidadão é livre de escolher a sua profissão ou o género de trabalho, de fazer as suas opções sexuais e de dispor do seu corpo como entender». O texto demarca-se, contudo, das situações em que existe coacção para a prática deste tipo de actividade. «O que importa é saber se o faz livre e voluntariamente ou, ao invés, de forma que não se possa considerar autónoma e voluntária. Neste caso, configurar-se-á uma situação de abuso e violência sexual de que é vítima o prestador de serviços sexuais»."

Esta é, em meu entender, uma causa pela qual vale a pena lutar.
O texto da petição
Lista de subscritores pela internet
Aqui podes subscrever a petição pela internet

3 de janeiro de 2008

Legalizar as casas de passe: sim, não, talvez?

Sobre este assunto, recomendo a leitura do artigo de Fernanda Câncio para o Diário de Notícias.
Por ser uma área que mexe com muitas susceptibilidades e por merecer uma reflexão séria, transcrevo-o aqui na sua quase totalidade:
"As mulheres que se entregam à prostituição e fazem da prostituição um modo de vida designam-se por toleradas; são inscritas no respectivo registo policial - e ficam sujeitas a determinados preceitos de parcimónia e higiene que um serviço de inspecções condiciona e vigia (...) Todas as toleradas têm de possuir o chamado livrete sanitário que lhes servirá de título que determina a sua classe (...)"
Era assim a legislação portuguesa até 1962, altura em que foi proibida: as "toleradas" e as "casas de toleradas" eram legais, regulamentadas e alvo de inspecção sanitária periódica. Meio século depois, quando a prostituição é uma actividade "livre de regulamentação jurídica" há quem defenda o regresso a este figurino e promova para tal um "movimento cívico".
É o caso do advogado José António Pereira da Silva, que se propõe "financiar" um movimento "para proceder à recolha de assinaturas para apresentar uma petição à Assembleia da República no sentido de legislar no sentido de legalizar as 'casas de passe' e o exercício controlado da prostituição, erradicando, concomitantemente, a chamada 'prostituição de rua'". O fundamento desta reivindicação (...) será sobretudo "a salvaguarda da saúde pública, porque hoje permite-se a prostituição de rua sem o mínimo controlo sanitário. É um perigo porque pode ser um foco infeccioso. Essas pessoas têm de ser rastreadas." Mas o "decoro" será também uma razão: "Porque é que é pior na rua que em casa? Na rua elas estão menos protegidas. E é também uma questão de decoro, não tenho problema em usar a expressão decoro."
A ideia de regulamentar uma actividade que mantém no ordenamento jurídico português um estatuto de excepção - o de não ser nem legal nem ilegal, já que a lei só criminaliza o lenocínio, ou seja, o favorecimento e a exploração da prostituição, não qualificando o acto e o comércio propriamente ditos - enclausurando-a, suscita, desde logo, reservas legais e constitucionais. "A tendência de regulamentar no sentido de internalizar essa actividade pode levar a situações que fiquem muito perto do condicionamento drástico da liberdade das pessoas, que pode ser contrária à própria ordem constitucional - que é uma ordem constitucional de liberdade", opina Jorge Lacão, secretário de Estado da presidência do conselho de ministros e o membro do Governo que tutela a área da igualdade. Lacão não prevê para breve uma iniciativa legislativa do Governo em relação a esta matéria, apesar de reconhecer que já fez alguma apreciação do direito comparado e que o exemplo da Suécia, que desde 1999 criminaliza os clientes, serviu de referência para a alteração do Código Penal que resultou na criminalização de quem recorre à prostituição compulsiva.
Igualmente sensível à restrição da liberdade individual e avesso à ideia de "clausuras" é o bispo católico Januário Torgal Ferreira. "As pessoas não querem ser atiradas para casas fechadas, para ruas muradas, para jardins zoológicos; não me parece que o problema se resolva com grades, prisões, correctivos, enjaulamentos." Convidado para o debate organizado por Pereira da Silva, o clérigo, que não estará presente por motivos de agenda, apela a que "se oiçam as pessoas intervenientes. É um problema delicado e sobre ele ninguém sabe nada e seria interessante ter a aprender. Tudo isto me exige muita delicadeza e respeito quer pelas pessoas que foram constrangidas quer pelas outras que fizeram uma escolha. Não serei eu o messias para indicar o caminho. E é preciso respeitar a liberdade individual.Talvez as pessoas não queiram ser salvas dessa maneira, com regulamentações..."
Certa disso, de que quem se prostitui nada tem a ganhar com uma regulamentação da actividade, seja ela qual for - e regulamentar não significa necessariamente retirar a prostituição da rua e encerrá-la em bordéis, mas tornar legal, e portanto enquadrada, uma actividade comercial existente - está Inês Fontinha, a directora do Ninho, uma associação que se dedica à "recuperação e acolhimento" de mulheres que se prostituem. "A prostituição é um atentado aos direitos humanos e os atentados aos direitos humanos não devem ser legalizados". Apostada em "combater as causas", Fontinha vê o rastreio obrigatório como uma discriminação: "a prostituta é examinada e o cliente não?". Quanto às "casas de passe", classifica-as de "violência extrema, porque tudo se passa entre quatro paredes". Nesta visão da prostituição no feminino, como vitimização e "subalternização das mulheres" não cabe quem (mulher ou homem) escolha prostituir-se. "Se existirem pessoas que querem vender sexo, isso faz parte da vida privada. Por que há-de o estado legislar sobre a vida privada?", questiona Fontinha. O debate, portanto, continua - como aconselha Jorge Lacão: "É uma questão em aberto na sociedade, deve debater-se".