1 de abril de 2008

O erotismo do ensino

Finalmente encontro um artigo sobre o ensino que põe o dedo no grelito: «The Eros of teaching», no blog In Socrates' Wake.
Recomendo a leitura do texto integral, mas deixo-vos algumas ideias de base:
O autor comenta o livro «Love on Campus» de William Deresiewicz, que atraíu alguma discussão no passado verão, ao apresentar "a imagem que a cultura popular alegadamente tem de um professor (homem) de humanidades: um parasita libertino, desmasculinizado e inútil que aprecia o poder de seduzir as suas alunas". Deresiewicz defende que "ensinar é uma actividade quase-erótica que não é correctamente entendida na nossa cultura porque nos faltam recursos conceptuais para entender uma intimidade que não é familiar nem carnal. É uma intimidade da mente. Em alguns casos é mesmo intimidade do espírito".
"A grande maioria dos professores entende que a arte de ensinar consiste, não só de estimular o desejo, mas de o redireccionar para o seu próprio objecto, do professor para o que está a ser ensinado".
"Poderá haver uma cultura menos preparada que a nossa para absorver estas ideias? Sexo é o deus que adoramos mais fervorosamente. Negar que seja o maior dos prazeres é incorrer em blasfémia cultural".
"O que atrai os professores aos estudantes não são os seus corpos mas o seu espírito".
"Sócrates diz no Simposium que o pior de ser-se ignorante é estar-se contente consigo próprio, mas para muitas crianças que vão para a escola, isso ainda não é verdade. Eles reconhecem-se como incompletos e reconhecem, mesmo que só intuitivamente, que o completarem-se vem através de Eros. Por isso procuram professores com os quais possam ter relações e, pela nossa parte, procuramo-los também. Ensinar, afinal, é acerca de relações (...). Sócrates também diz que os laços entre professor e aluno duram uma vida, mesmo quando os dois já não estão juntos. E assim é"
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Tudo isto é tão distante das discussões que actualmente se fazem a respeito do ensino. A única semelhança é que também envolvem Sócrates!
E nada de melhor que leres agora o conto do Charlie «A aula de Filosofia», que está já a seguir...
Mas antes, o comentário do próprio Charlie: "A circunstância de ter-me sentido toda a vida incompleto e pronto a renovar o espirito através do corpo, e por analogia simétrica, o corpo através do espirito, encontrou neste post um porto de abrigo e ponto para reflexão. Quem tem sede de saber, tem essa angústia de saber-se sempre aquém do descobrir que abre sempre novos caminhos no desconhecido. O desconhecimento da própria ingorância é talvez uma benção para os que são felizes sem o saberem, pese embora a contradição que esta afirmação contém. O professor é o Deus do saber, o aprendiz o espírito virgem , Eros o seu elo de ligação.
O Saber é a penetração fecunda no mundo das ideias, e o moldar do corpo que as contém: Existo e por isso penso- O erro de Descartes- e o saber molda o cérebro, o único verdadeiro órgão sexual de que o género Humano é feito"
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